Sou dos que fazem e desfazem
“… Liberdade que me prende nas palavras amareladas que a gaveta guarda do tempo. Tempo cruel e sábio que desfaz o sentido, na passagem da vida pelo tempo. Já não há certezas que não sejam dúvidas, nem dúvidas que não sejam certezas. Já não há pessoas que não se achem sabedoras de tudo, ou que nunca se enganem na imagem de outro alguém.
O meu tempo está fechado com os papeis amarelados que a gaveta guarda, ensinam-me que não sou dos que sabem tudo e nunca se enganam.
Eu sou dos que se enganam. Dos que desamam. Dos que ressentem. Dos imperfeitos e incoerentes. Dos errantes navegantes. Dos que recomeçam e são donos de uma obra inacabada.
Sou dos que não se escondem. Dos que andam nas bocas dos outros sem se importar o que as bocas do mundo sopram, esperando sempre ser em desfavor, sem que isso seja importante ou referência acerca da humanidade.
Sou igualmente dos que constroem. Dos que fazem uma musica. Um poema. Um filho. Amor. Uma paisagem. Uma lágrima antes da seguinte. Um sorriso ao invés de uma gargalhada. Sou dos que leem. Dos que gostam, feito de um gostar guardado junto aos papeis amarelados pelo tempo.
Sou dos que amam com tempo avassalado. Não mudo de amigos há anos. Tenho poucos e são os mesmos. São velhos os meus amigos, como eu. Não tenho novos amigos. Novos conhecimentos.
Amores, são pérolas que se fazem e desfazem no frio congénito do meu sangue.
Sou híbrido.
Sou dos que fazem e desfazem …”