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Cardilium

Cardilium

saudades de menor idade

Sabes, tenho saudades de beber até ficar dormente e com ideias boas e progressistas. Já não bebo desde mil novecentos e noventa e três, já lá vão uma data de dias que não entra em mim uma gota de álcool. Foi em março desse ano. Tenho saudades de acordar seco de tanto líquido, saudades de poder partir os cornos a mim ou a outro gajo qualquer e ter que ser um juiz a recordar-me da minha vergonha.  Saudades dessa solidão.

A solidão alcoólica ainda é menos acompanhada do que esta solidão sóbria. Saudades das madrugadas esquecidas de acontecimentos. Saudades das mulheres que não me lembro. Dos poemas que queimei. Das músicas que destruí. Das companhias sem presença. Das dores ausentadas. Das misericordiosas palavras a mim próprio de promessas que acabei por cumprir. Saudades de um tipo que não me lembro e/ou reconheço. Saudades dessa vida que me emprestaram e partiu. Saudades da diferença militante que me acompanhou até aqui.

Sabes, tenho saudades de menor idade.