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Cardilium

Cardilium

por inteiro, desfragmentada e disponível

Toda a humanidade sofre e se alegra com a natureza inteira, por inteiro, desfragmentada e disponível. Os homens não necessitam da tristeza que todos os homens são capazes de infligir nos homens todos. Os homens não precisam da raiva dos outros homens. Aos homens basta a generosidade da natureza, o entendimento das estações, a alquimia dos braços envoltos nas mãos que cuidam das flores, das árvores e dos rios.

 

Na velha rua que desço ao final de tarde anos a fio por desacerto ou ajustamento (nem sei), os homens são restos de uma juventude errante, os homens são a pouca idade na muita dor dos corpos que os albergam.

 

A polícia vigia a rua. Os homens têm a boca sem dentes e a alma sem esperança. Os becos têm mais vida nas horas mortas do que deus no céu designando o caminho do céu, purgatório ou inferno. Os homens desta rua já não podem ser escolhidos por deus à hora da morte, já o foram neste bairro da vida. A morte, deus, o inferno, a prisão, o purgatório, a dor, o céu, a fome, a dependência e a liberdade, vivem nos homens desta rua que desço por erro ou acerto (nem sei) da meia laranja para alcântara, com o rio e a felicidade desenhada nos painéis de Almada Negreiros, que se confundem nas almas viajantes do tempo inadequado pela mágoa.

 

O tempo, a mágoa, o ego. O céu, o vento e a mágoa. A mágoa resistente e sem antídoto. A mágoa que volta mesmo quando parte. O céu que fica. O vento que sofre. O ego que é a mágoa devorada pelo vento, e a vida da mágoa que fica mesmo quando parte. A mágoa é maior do que o tempo, o ego, o céu e o vento.

 

Toda a humanidade sofre e se alegra com a natureza inteira, por inteiro, desfragmentada e disponível.