Palavras por ver o sol um dia XIX
Quando os raios de sol me cegam caminho por intuição. Confio no passo seguinte de um caminho que tem que ser feito tantas vezes sem rede nem claridade.
Cada desafio é uma oportunidade, ultrapassável. Não há forma de saber o que está para lá da esquina seguinte se não a dobrar. Tal qual caravela quinhentista de velas desfraldadas, dobrando o Bojador em boa esperança. Desafiar-me é provocar-me. É saber que irei sempre mais além. É ser medo e força. Pensamento e decisão. Acção mais que sonhos delirantes e coloridos de uma natureza morta de palavras, que somente as palavras nos dão.
Que bem me sabem as noites estafadas da concessão de um sentimento de dever desafiado e cumprido. Que bem me sabe a brisa que corre na estação sintonizada de uma musica que me trás de regresso. Que bem me sabe aprender. Que bem sabe descobrir-me. Não tenho. Não existem desculpas para não ser eu.
Não consigo lamuriar-me e ser imóvel. Se o fizer a lamuria perde o sentido, e, diminui-me. Sou um homem de mangas arregaçadas. Um sobrevivente emocional. Sou o reflexo límpido de um lago cristalino, narcísico e transparente. Sou apêndice, extremo e metade. Sou variância com significado. Sou psicossocial, psicométrico e sociométrico.
Sou uma vontade extrema de ser, sem rede ou claridade.