Excerto de palavras desconstruídas por ver o sol um dia
“Foi no último dia. O último dia do mês. Seria o primeiro dia de um último por anunciar. O mar plantado depois do pinhal, uns acordes entoados, a pele tocada com pele, e as nossas almas arrebatadas.
Tivemos um rio, uma nascente, noites de nevoeiro e gelo que derretemos de corpos dados. Tivemos um castelo erguido que nos albergou, mas nunca alcançámos a paz que a paixão retirou. Existiu sempre em nós, um “fora de tempo”, um “fora de horas”, uma anormalidade seduzida e uma vida fora da gente, e, gente.
Fora de nós existiu a impossibilidade da fusão das almas. Não cresceram as manhãs com cheiro a café, e as gargalhadas palermas avizinhadas de nada, e não floriu o “querer-bem mais do que bem-querer”, o conforto do abraço e a intimidade criada, não foi sequer semeada.
Entre nós existiu, existe e existirá, o afastamento adiado da alma, o último dia e os corpos suados de nada. Depois, tudo será desdito por percepções anormalmente díspares e expresso em palavras diferentes, não entendíveis, não escutadas e incompreendidas.
A lagoa da nascente do nevoeiro e da madrugada, contínua intacta e desocupada, de todas as noites despedaçadas de última vez, de último dia, de último beijo”