eu? deito-me para acordar.
quando me deito é quando acordo,
e quando me levanto é quando adormeço,
é a vida em negação abençoada,
dói tanto,
mas dói menos,
adormecer quando me levanto e acordar quando me deito.
penso tanto e em tão pouco,
nas noites de pranto e desgosto,
que sinto perdido o pensamento,
dos meus próximos mas ausentes.
atravesso a mais bela solidão da minha vida,
na floresta, o vento canta doce a afinação funesta da poesia,
leio o outono,
vejo o suicídio de todos os homens em avessas concordâncias,
e a mais bela mulher envelhecida,
descobre a vida já tardia.
enquanto isso,
uns idiotas debitam frases nas redes sociais, negligenciadas de saber e enriquecidas de recados incoerentes e ignorantes.
o vento acalmou,
chegou ao céu,
eu?
deito-me para acordar.