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Cardilium

Cardilium

Em imagens de paisagens

Quando penso nas paisagens que deixei, sinto a forma com que me debrucei nelas. É isso que faz a permuta da saudade na vontade de me saciar em todas as incendiárias tardes, manhãs e noites. Tudo o que foi orgânico foi para além da imagem. A dorida alma, o corajoso querer. Em todas as ruas, o forasteiro, agudo e sentido frenesim de peito e estomago, as rusgas da consciência, a infância, os dias em que a morte sobeja, as estações sempre iguais, sem vento, sem chuva, sem sol, sem vida. A agonia do bairro sem cor. Da encosta deslavada de gente que se desloca em direcção a sentido nenhum. As mulheres ternas e desgostosas, desamadas. Os homens inconsequentes nos dias sem dias.  Ninguém abandona a paisagem. O céu está encoberto pelas nuvens, todos adormecem desse ópio incandescente até que o mundo seja de claridade aos dias.

 

Mais tarde, os dias chegam aos poucos. Primeiro, atordoados. Depois, amantizados com o sonho, aos bocados. Um sonho de cada vez. De sonho em sonho. De quimera em quimera até hoje, em raios de pedaços de luz. Em imagens de paisagens.