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Cardilium

Cardilium

de 24 para 25

Os poetas que sobraram

Os habitantes desta cidade murmuram sonhos. Murmuram anseios para que os filhos regressem vivos dessa loucura fascista, de se achar que se colonizam povos, para lhes devolver o que quer que seja.

Os poetas desta cidade arriscaram a cantar versos sobre a liberdade, fraternidade e igualdade.

Os analfabetos desta cidade, um dia, aprenderam a ler, chamaram-lhe aulas para adultos, nocturnas.

As prisões desta cidade abriram-se num sem sentido de entendimento, acerca da estranheza que foi a liberdade, ou da desigualdade de todos terem o pão da igualdade.

As portas desta cidade abriram-se aos pares e o refrão da canção cantou cuidadosamente:
- “a liberdade está a passar por aqui”;
- “depois do adeus”;
- “adeus tristeza até depois”;
- “agora o povo unido jamais será vencido”.

Os anos foram relativizando as conquistas de Abril a meio caminho de Maio. Nesta semana de intervalo, entre uma conquista e o direito dos trabalhadores se associarem, reunirem e evocarem a liberdade, já nada vale, tudo apodrece nas mãos de uma “coisa” a que chamam “mercados financeiros” e dos seus lacaios ordeiros e vendidos. Já nada ou pouco importa, já não se sabe, lembra, dignifica, ou preserva a luta de tantos e tantos homens e mulheres.

Tornou-se isto num idealismo faccioso e falacioso, interessa passar isso, e a “coisa” tem passado. A liberdade precisa de voltar a “passar por aqui”, por esta surda e cega ignorância, por esta desfaçatez conjugada de embrutecimento de um povo.

Abril esvaziou-se e Maio antigo esmoreceu subjugado. Ainda resistem uns apontados e “fora de moda”, que recordam Abril e a sua poesia.

Viva o 25 Abril.
Viva o 1º de Maio.
Não é uma festa “dos comunistas”, como convém dizer, para catalogar, excluir ou julgar. É uma dádiva de respeito a que me vergo e relembro, vivente e pensante, emocionalmente presente como me quero na minha existência sensorial.

Do sítio de onde eu vim,
Trouxeram-me ventos e mares,
De diferenças me igualo,
Beijo-te Liberdade,
Abraço poder reunir-me sem me esperar a prisão,
Alegra-me poder ir ao teatro e haver livros para ler,
Música para ouvir e referências para me inspirar,

Não podendo mudar, posso transmitir, e assim o transmiti à minha descendência a importância vital de que tudo existe, porque tudo mudou, e acrescentei:

- não te esqueças que por nós, por mim, por ti, estiveram presos por amar, muitos dos nossos poetas que nos devolveram a liberdade ….... e, nós somos parte do respeito que devemos a esses poetas que sobraram.

nós somos parte dos poetas que sobraram também.
nós somos parte dos poetas que sobraram.
nós somos parte dos poetas que sobraram também..