Bairro
Passeio-me pelo sítio onde nasci. Não há gente que tenha nascido ali que por ali ainda viva. As esquinas e todas as portas me reconhecem e nenhuma das pessoas com quem me cruzei me disse: “bom dia sei que pertence aqui”, e no meu mais profundo sentir, sou invadido por uma saudade que grita dentro de mim, sou invadido pelas correrias, pelos amigos, pelos cheiros, pelos anos que me engolem a cada dia. As ruas estão iguais naquele bairro por detrás da igreja, estão agora remendadas, e o rio já não as enche a cada inverno, chove menos. Os beijos do jogo da escondida ainda por ali estão no beco do preto, nas escadas do conde, na fazenda do pimenta, no terreiro, no portão da quinta do sr tenente. Eu ainda por ali estou. Eu ainda por aqui me passeio vivo. Eu ainda por aqui morrerei com este sítio infância de mim.