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Cardilium

Cardilium

acabei de ler a vida

“… Acabei de ler o último livro que escolhi viver.

Acabei-o entre o sono e o despertar. Entre as ternurentas personagens de que me vesti e as ousadas imagens de que me despi.

É assim todas as vezes em frenesim. Esta compulsão quase recomendada, mas seriamente desaconselhada. Para mim é indicada, que eu não me importo que a morte me asfixie de paixão. Ou que estes homens escritos no papel por outro homem qualquer me roubem da boca palavras que são mulher, verão ou mar.

 

Esta doce melancolia ou esta agitada tormenta vai-se, quando a folha se vira em capítulos de dias decrescentes, e, cresce a vontade que não se submeta esta música a nenhum compositor. Aumenta o desejo de que a arvore grande e frondosa gemendo ao vento na praça inventada pelo escritor não seja jamais tocada na sua imobilidade, e, que o coreto continue lastimando suavemente aos amantes.

Tão inventado. Tão vivo. Tão presente. Tão genial.

 

Que me console nossa senhora dos dançarinos quando a ti ando perfumado nos teus braços, e que teus aloirados cabelos me afaguem a face neste desejo escondido de te beijar ali mesmo com um abraço entardecido e fresco pela noite acabada junto ao rio. Não existe mais mundo ali. Só as tuas gargalhadas retorcidas com o olhar, e nós.

Assim se adia a prosa em poesia.

Assim se adia a noite depois do dia.

Assim se adia talvez o amor, em corpos suspirados na pequena dita oração.

Leio sempre o livro que escolho viver…”