Estória para Arantes -
Sinto aquele lugar, como que um regresso ao futuro. Mas se é futuro não é regresso advertem-me. Olhámo-nos. Entendemo-nos. Ambos temos sonhos. Sonhos de enlouquecer por ali, com o vento que faz dançar, as flores daquela areia pesada. Sonho de enlouquecer por ali, junto á casa do telhado esquinado. Sonho de enfeitiçar o mar e dançar com ele. Tenho sonhos !... Só isso sonhos. Sonho de acordar antes de adormecer, para ser o primeiro a pisar aquele chão. Sonho de adormecer para sempre por ali. Na Gelfa , ali , entre o Douro e o Minho, a caminho meio da Galiza. Os montes erguem-se por detrás a nós, agitando-se de acordo. O café sabe bem. O sal misturado com o sol encadeia-me. O forte que se ergue do mar de Caminha, projecta-me estórias. Estórias que correm, entre os carris da curva inclinada, do comboio que não vi passar. O sítio antes. O sítio depois. O sítio daquele hospício leva tudo, nada traz. Voltar dali, dá-me o sentir nostálgico, do regresso do ano novo. A saudade embargada pelo riso incompreendido que deixo escapar. As lágrimas de Julho que lá deixei secam-me. Não existe regresso, sono, frio ou fome. Existe somente silêncio e palavra. O mar alterna mais descarado que a alternadeira do bar. O mar é autista. È voltado para dentro, inteligente, sensível e sedutor. Cheira bem a terra boa. Desgasta-se por lá o gastar. Gasta-se o tempo com o tempo. Gasta-se o Amar com o Amar. Vai se devagar até ao cruzamento. Depois tudo volta á anormalidade do ruído. Às marginais decoradas com turistas americanos, para inglês ver. E tu olhas-me