Linha do horizonte
Gosto de não ter linha do horizonte e adivinhar te. Gosto de entender os números das arvores e os teus silêncios. Gosto de caminhar com a cadência do chilrear das cigarras e ver-te a saltitar a meu lado. Gosto de teu anti-olhar e dos pedidos que me fazes. Gosto do tempo isento de tempo e do espaço cheio de espaço. Gosto de torresmos, de café e das palavras estridentes ecoadas no Alentejo. Gosto das pedras matizadas de pedras, e dos recortes em forma de arte na serra. Gosto das flores lilases e do voo encantado das cegonhas. Gosto do silêncio de fundo do ruído que apazigua o teu olhar. Ao longe avisto as cores e os sons dos silêncios. As minhas mãos mexem-se enquanto misturo com as palavras, o espaço que o tempo me permite entender. O teu olhar é vento que me leva. É fácil ver-te ali. Estás ao meu lado, fazes parte de mim. Gosto do eco das vontades que as planícies aquietam.Gosto da tua cor de manha que nunca tinha notado. Gosto do teu desassossego igual ao meu, como se a mais pura das verdades se confirmasse. Gosto dos saberes dos mesmos sítios e do carinho que guardam os gestos das minhas mãos. Gosto dos abraços que não me deste, e das palavras que disseste sem as dizer. E do muito mais que falamos sem fazer.... Claro que me tranquilizas!!!