Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cardilium

Cardilium

a felicidade mora numa rua perto da loucura

 

A amante que durante anos me passou pelos braços morreu. Morreu nos braços do marido a dizer o meu nome. Nome que durante anos escondeu. Nome que guardou gritando. Morreu a segreda-lo. Adorava tê-la ao telefone a andar de um lado para o outro, ao som ritmado dos tacões dos seus sapatos. Adorava analisar os seus textos e fotos. Adorava os pedidos de boa viagem e de beijos. Nunca fui ver-o-mar com ela, adiei. Agora não posso mais ver-o-mar ás quintas-feiras porque morri com ela. Uma viagem é apenas serenar o coração. Uma lembrança, um cheiro. Existe um pinhal regado de vento. Umas escadas escuras que gemem agua ao subir e lágrimas ao descer. Tem sol e sei que o mato irá ter cheiro. Fica a meio caminho do início, de um caminho desiniciado. Os lobos escondem-se e denunciam os passos. Apenas as estrelas nunca se apagam. Ate a lua se esconde. As estrelas nunca se apagam têm um sentido e uma direcção. No romance as coisas são diferentes. Não há sentido nem direcção. A vontade própria é aliada da abrupta. Os encontros serenam a vontade. As palavras estão codificadas no céu. As estrelas emitem sinais. Os lobos uivam ao vento, e empurram cada dia a serra, mais e mais para cá. Suavemente os amantes sabem que um dia o mar encaminhara aquela onda! Que serão removidos das amarras! Ficarão apenas olhando e tocando os dedos mínimos como se fosse máximo. A maré esvaziara e tudo recomeçara no ontem. Vivo morto em viagem permanente pela vida. Acredito que a felicidade mora numa rua perto da loucura. Não faço planos para a vida, Não vá eu estragar os planos que a vida tem para mim.