Teoria da felicidade relativa
A felicidade não sendo continua ou definitiva, é sempre relativa e dependente dos subúrbios da alma. Se estou abarcado na coerência de mim próprio serei propício à felicidade. Se estou afastado do que construí sinto-me dilacerado, logo, sinto a condicionalidade da felicidade como uma desconhecida e sem razão aparente de ser, infelicidade. Serei tão ou mais feliz, de cada vez que encurto ou estendo a mim próprio o que acredito ou quero.
A felicidade é o subúrbio que escolho habitar.
Dar-me o direito de me sentir infeliz aproxima-me da felicidade. O que me torna ou exclui, aglomera ou circunscreve, é a minha rota desviada, é alteração do meu caminho em prol de alguma coisa que não faz de mim o que sou. Eu sou mais de ser e nada de ter. Sou o que resta das minhas gavetas de anos por remexer, sou o antro do que quero compreender, sem querer ao mesmo tempo, rebentar com a fechadura onde a chave já não pertence.
As chaves e as fechaduras deixam de se pertencer com o tempo e o desuso. Deixar-me merecer o bolor das arrecadações é envinagrar a minha alma. Despoluo-me com a graça de azedar e voltar à doçura do olhar. À minha volta sempre existiu o mar, o luar, as flores, e as míseras e afortunadas cores a que dou, ou retiro encanto, conforme me sinta pertencente ou não ao subúrbio, é lá que pouso a relatividade da minha (in) felicidade.