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Cardilium

Cardilium

Prefácio

Inventei duzentas páginas de livro.

 

Um dia dar-lhes-ei o sol. São páginas grossas como farpas trabalhadeiras, feitas de dedos grossos de uma mulher do campo. São páginas desenfreadas e soltas, sem rumo, páginas de um devaneio desenfreado ateu e pagão. São páginas descontextualizadas de profusão profícua ou ambiciosa, encarceradas de ávidos indutores de sensibilidade (s). São páginas que não são páginas. São letras de lágrimas presentes, parágrafos passados de disfarçado humor, isentos de gargalhada, solícitos de metáforas e sorrisos. São letras mascaradas de montanhas e viagens circum-navegadas de emoções. São mentiras ditas como verdades, e verdades irreflectidas, inconvenientes e sérias.

 

Este é um livro de um constante soluçar de dias e agonia de noites indomadas. É um filho por parir com um pai por encontrar. É um livro desnascido e sem mãe. É um filho nascido de uma obra, sem graça nem desgraça, valendo pelo que não está descrito.

 

É tímido e tem átomos de cloreto com químicos associados. São duzentas páginas desta mistura que não têm afectivamente ligação, associada aos elementos que a vida constitui, não se tendo a certeza, que os elementos como o sol, o mar, o céu e as estações, não são na verdade, a única e exclusiva família do autor.

 

Sabe-se hoje e apenas, que um dia se dar-lhe-á, o sol.