Possuo, cedo e sonho
Quando, de dentro de mim cedem as árvores e secam os ribeiros, compreendo que nada possuo, mais do que de nada posso.
Quando, uma gritaria me invade sem que o silêncio se sobreponha e organize, a minha mente constituída pelo meu peito compreende que nada possuo, mais do que de nada sou.
Quando, de dentro de mim culpo o meu lado de fora, compreendo que não sou o homem que entendo ser e não possuo mais, do que o homem que me habita.
Quando, já não é um pronome a forma morfológica e a sintaxe que me orienta, desenquadra-se do meu juízo que não possuo ou arquitecto, uma debandada de vento do que já não penso.
Quando, se retira o como, o quê, o porquê e o quando, e neles embarcam o mar todo adentro, mais o fogo, a demência e a alucinação, sinto-me como que eliminado e excluído, desentendido, demitido e atordoado, como se uma droga inócua e ao mesmo tempo fortíssima se construíssem de elementos e, neles, existisse a morte enviada ao meu encontro terreno.
Quando, nada possuo, nada mais posso. Nada suportando apenas possuo os meus sonhos, e os sonhos são, a primeira forma de posse.
Possuo então mil sonhos das cores do arco-íris. As palavras que dançam neste baile interminável em que se transforma o meu cérebro, secundam as emoções a que chamo fantasia, quimera e devaneio.
Os sonhos não partem de mim porque são os meus anseios. Em mim, eu sou mais do que o sonho que possuo. Sou a vontade de continuar a sonhar para sempre.