Varanda de lua cheia
O tempo por si só não passa de tempo, no entanto, enquanto tempo, o tempo é por si só, vida. A eternidade é uma parcela de tempo por viver. O tempo eternizado é a duração do passado, aliado convicto da forma usada enquanto tempo. O tempo subsiste concretizado com as emoções. As recordações são jardins que cuidamos enquanto sentimos. O sentir não é descontinuado. Quando recordamos, inclinamos o sentir como um quadro inacabado, onde falta sempre um retoque de alma. Os assuntos que julgámos encerrados mantêm-se permanentes e intemporais. Sentir é o elixir do espírito. O corpo embora mutável é um aperfeiçoamento inacabado. Na morte nada está concluído. A vida embora terminada, não é jamais encerrada. Adiantar a morte não é atrasar a vida. A vida é constituída por parcelas de ciclos inconclusivos. Por ordem de grandeza e razão, a eternidade não é o tempo vindouro, é o tempo envelhecido, é dimensão sensorial e a razão da decisão. O tempo eterno não existe, o que dura e se esgota, é a presença quotidiana do dia em que se vive. O tempo por si só é a vida. A morte não é a vida e a vida não é a eternidade. Os deambulantes prazos esgotam-se, na cacimba de beijos itinerantes que te dou, no alto da tua varanda engrinaldada de lua cheia. É vida feita de novos tempos que te presenteio.