Arco-íris
Nesta encruzilhada não há norte, nem há sul. O fogo aquece o horizonte que se torna futuro com o cair do dia, numa luz soturna e difusa. O amarelejado floresce espelhado no bulício da alma. O entardecer sempre formou em mim, o aditamento ao adiamento. Não sei se as tardes conhecem os encantamentos que me conformam e equilibram. Esta época o que tem de bom, é que passa também. Não me imagino um fantasma cínico a vida inteira. Assim, como assim, estes dias apenas contêm vinte e quatro horas como todos os outros. Se o natal perdurasse mais do que as horas que os dias têm, imagino-me a enlouquecer podre e barbado por aí, morrendo de uma forma rápida, escolhida e apressada, de encontro à morte sentida, abalando assim, deste desnascer improvisado que é a vida.
Nestes dias passados, a natureza expressou-se em entardeceres, marés, céu da mesma cor que o mar e o arco-íris. Todos se expressaram em respostas às minhas ansiedades e silêncios. Não foram necessárias palavras ou iluminados e extemporâneos devaneios, para entender o que preciso de entender, aceite e agradecido. As respostas possui-as a Natureza.
Li no arco-íris, companhia.
Na cor do céu cinza, amizade vinda num abraço do mar da légua.
Nos olhares entardecidos vislumbrei a poesia do entendimento e do silêncio.
Na viagem senti todas as viagens que fiz.
No amor, percebi todo o amor que abranjo.
A oeste, entendi a luz que me é cedida a cada acordar.
Nas ondas rebentadas na ravina, senti o sal das lagrimas que ali mesmo verti.
Naquele pedaço moreno de mar encantado por cactos de flor amarela, percebi o sentido magnificente da celebração de dois arcos iris ao invés de um.
Se sou a leste, a poente me fico, a sul me verifico e a norte me acaricio. Nesta encruzilhada, o pensamento seduz-me mais a mim mesmo, do que a qualquer frágua miserável entendida de crise ou de natal. A mim, não me vendem natal, há já algumas estações. Eu sou nascido da natureza, crescido pela poesia, falecido no passado e reluzente de presente. Sou ouro, mirra e incenso. Sou reflexão.
Pensar é, a maior imagem da alma que me conduz.