Cada primavera perfuma mais que a anterior
Passam os anos. As orquídeas são mais formosas nas Primaveras. São mais bonitas Primavera após Primavera. Cada primavera perfuma mais que a anterior. Cada lua nova inunda mais que a velha. Cada vírgula é mais bem desenhada na lua seguinte. O último pôr-do-sol é sempre mais sublime. Imagino que o envelhecimento é apenas experiência. Experiência em imaginar quadros de cores fantásticas de paz. Saber de cor meia dúzia de sílabas que me encaminham até hoje. Refugio-me na calma de beber cada dia. Existem mulheres novas envoltas de admiração. Ver a minha filha mulher, alterou-me essa visão. Queria pintar um quadro. Expor na tela o colorido que me invade a alma, debruada por momentos. A existência tem acordes e sons. Vejo do outro lado a ânsia de me encontrar encontrando. Escrevo pelo alívio que sinto ao sentir. Penso pela importância que me dá a analise. Os olhos humanos dão-me endereços anónimos, mas consciência real. Pesa-me o sossego de estar no meu quarto só, mas livra-me do desassossego. Não tenho medo de morrer porque se morre aos poucos. Não tenho medo de viver porque se vive de “muitos”. Sou afinal, a soma do ar que respiro, com o sangue que me bombeia o coração. Sou a interacção de mim para mim. Sou decisão. Sou solidão mesclada com pessoas. Sou dos outros não deixando de ser de mim.