O segredo é o recato das palavras
De repente, na calmaria da noite na baía, ergueram-se ondas. Corpos submersos e amados rebolam-se no chão de lodo e areia grossa que deixa marcas nos nossos corpos. As estrelas tocam-nos na passagem da noite para madrugada. Semi-nus antes, nus depois, rimos, nadámos e não dissemos nada, vociferámos silêncios, e trocámos as nossas bocas de língua. Cheira a lenha ardida e fumo repousado na outra margem. A noite não existe, excepto ali. Não está frio, nem faz calor. O tempo está descansado com o céu em nós, junto com as nossas mãos, desbravando a isenção de peso na lagoa fundida connosco. Sabe-me bem o cigarro e o sorriso do inesperado. Nada é novo, quando os dias não se separam dentro dos anos. Nada é novo, se um dia já o foi. Nada é novo, se uma noite te acariciei a alma com o coração. Nada é novo, quando posso ser eu existência. Nada é nada. Nada é a simplicidade de muito e tanto. Os teus orgasmos mantêm-se em tremor, gemidos, com a mesma entoação de sempre A saudade cresce no momento seguinte ao subsequente. A barragem imóvel espelha-nos. Secamo-nos ao vento e alisamos os cabelos entre os dedos, não tarda a civilização está aí, e, precisamos abordá-la respeitosamente. A loucura do momento está presente nesta ausência de anúncio. O segredo é o recato das palavras, a decência do vento a tocar-nos, o embalo suave dos pássaros. A felicidade é este chão, este fogo, este céu, este rio, este cheiro, este pinhal, esta estrada, esta foz, este convento, esta praça, esta aldeia, estas estrelas, este silêncio, esta agitação e este abraço prestes de explosão e distância aguardada.