Nos beijos, nos beijos e nos beijos
Nasceu uma fonte em mim. Uma nascente de fogo, incandescente e cristalina, uma noite de lua cheia, música intemporal, aciprestes e lua. Os amigos encontraram-me mais a sul, mais a norte de Africa. Debruçado no meu peito, sinto o discurso magnificente e preocupado de saudade, debruada. Uma colina estranha empolga-se e crava-se nas minhas mãos devagar, tal como quando a bolina se levanta, antes do vento. Sem decisão, a vontade transpira-se nos corpos despidos, aguardando calmos o momento extasiado que se sonha ser eterno. Os sonhos são sempre exequíveis desde que, antes sonhados. Ontem, o hoje era um sonho. Antes, os sonhos foram quimeras, devaneios, congeminações energéticas, delírios, estrelas e entressonhos. Uma não estória é um esboço romanceado, um soneto, uma travessia, um lugar no mundo, um assento da alma. A dor é: um estado de alma, um alarme do âmago, um pré-reencontro com a vontade, a impossibilidade de abraçar, a ausência e o desejo. Um acorde é: o sustento de uma clave de sol, o sentido existencial de uma pauta onde gravo o teu nome. É como uma gota de chuva antes da enxurrada, ou uma sinfonia feita de gestos de enlaço, cheiros, bocas e olhares, fusões desnudadas e sentidas. Aclara-se-me o adjectivo que desconheço de nome amor, uma existente farpa da mente. O amor é tão simples, que por tão simples ser, não é entendível. Não é representado matematicamente de uma forma racional e logica, não tem algoritmo de Huffman, derivada, matriz, primitiva, estatística não paramétrica, equação de terceiro grau, o que quer que seja. O amor de tão simples ser, não poderá nunca ser desenhado arquitectonicamente. É ilógico. Irracional. Verdade também. A forma mais próxima de entendimento que conheço está na poesia. Na saudade. Na vontade. Na dor. Nas camas desfeitas. Nos caminhos. Nas mãos dadas. Na hora da chegada. Nos cabelos soltos ao andar. No sorriso. Na cumplicidade. No olhar. No querer mais do que bem-querer. No arriscar ser criança. Nas palavras e na dança.
Nos beijos, nos beijos e nos beijos.