Senti dois sismos,
um na sexta-feira,
outro no sábado,
no domingo e pela escala de Richter não senti nenhum,
estava cansado,
descansava,
mas esta tarde voltei a sentir,
tremi por dentro,
abalei-me do peito,
mas não me importo,
desde que a emoção segure o abalo.
Solto os lábios,
sob estrelas cadentes,
bocas ausentes,
de beijos,
são desejo!
velho mar,
paciente,
em teu canto,
fico horas sem tempo,
em teus sois,
me aqueço de inverno,
em teu sal
deixo os meus olhos chorarem,
no teu leito,
adormeço o meu sonho.
Embora o tempo passe,
volta sempre a passar outra vez,
fica,
parte,
nasce,
ama,
dança,
espreita,
pede,
dá,
escuta,
diz,
parte e fica,
o tempo passa,
e nunca acaba.
Indelével,
em chaga,
incurável,
sem rasto,
com cheiro que se lhe reconhece,
sem pranto,
com choros,
sem gargalhadas,
com sorrisos,
abraços,
e marcas,
… que a marca ficou cá.
Qualquer instante deste caminho é soberbo,
a doçura das escarpas de laminas que se desfazem em cada olhar,
os pés dormentes,
o tempo anestesiado de uma esperança em que não acredito,
o vento por companhia,
os amigos que vieram visitar os amigos,
e eu por aqui,
entre mim e a minha semana de solidão de companhia anual.
Leio-te o horizonte nos olhos,
verde prado, domingo, noite,
a distância ao coração medida pelas veias vincadas nos braços,
a fresca terra ausente,
a cidade alvoraçada de calor,
as crianças adormecidas e transpiradas,
os gatos afastados do mundo,
e eu com o livro na mesma página desde manhã.
O terror do tempo sem tempo.