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Cardilium

Cardilium

- nunca e sempre -

Algumas palavras de amor e ódio são iguais, carregadas do mesmo querer, do mesmo poder, da mesma legitimidade, escritas com as mesmas letras, ditas pelas mesmas bocas, fundidas nos mesmos corpos. Por vezes não são amor e, nunca são ódio, são instantes como tempestades.

Depois, adormece-se e acorda-se com o mesmo dizer: - nunca e sempre -

Borboletas

Quando as borboletas são num dia a vida inteira,

ocorre-me depositar a vida inteira toda num dia,

nos minutos, todos os anos,

nos segundos, todos os meses,

e em todas as fracções divisíveis do tempo,

a vida toda, por inteiro.

Não sei o que é essa coisa de vida eterna e deus pai

No fim, entrego-me ao que escrevo depois de ter sangrado com o que leio, a morte nada ensina, não sei o que é essa coisa - de vida eterna e deus pai - a morte ensina-me a vida, e todos os dias que me restam, ou que me sobram. O fim é o fim. Até lá encho-me de cheiros e paisagens, de abraços e vida o quanto puder.

A razão só me aprisiona

não guardo razão ou razões,

entendimento ou tristeza incompreendida,

 

deixo na serra fresca e nas flores silvestres,

o suor que se solta de mim,

 

no horizonte, a cidade mantém as rotinas,

desço com o sol em fim de tarde,

 

sem razão,

que a razão só me aprisiona.

Salvam-me os fins de tarde e os poetas que me albergam

Estarei a descansar na lonjura da planície, a tentar semear semanas sem estatística, sem a inversão crescente das análises a entregar, sem planeamento, sem agenda. 

Estarei na lonjura que me pertence, na música a que pertenço, no sal que me há-de temperar.

Depois, a lonjura termina, o recomeço amanhece, e mais dias de semanas de meses aguardam tudo de novo.

Agenda. Objectivos. Resultados. 

Salvam-me os fins de tarde, e os poetas que me albergam.

A música não tem pressa (a formula de uma cantiga)

A música não tem pressa, espera pacientemente que arda e se incendeiem as colcheias e as semi colcheias, os acordes menores, os maiores, os de sétima, os de quinta diminuta, e todos, como um lume brando, vão subindo, misturado-se com um poema que se quer mensageiro, disruptivo, indendiado de hiperboles, pleonasmos e outras figura de estilo. Assim, nasce a cantiga que mais tarde me embala e acorda, me emociona e transforma.

A música não tem pressa.

As nuvens a cairem no mar

As nuvens ensaguentadas de sol a cairem no mar dão belas fotografias,

alguns rezam, outros padecem,

uns dançam, outros esperam a noite,

há quem se embriague, há quem se aliene,

e o sol já rompe o dia cintilante em outro continente,

disseram-me.