Algumas palavras de amor e ódio são iguais, carregadas do mesmo querer, do mesmo poder, da mesma legitimidade, escritas com as mesmas letras, ditas pelas mesmas bocas, fundidas nos mesmos corpos. Por vezes não são amor e, nunca são ódio, são instantes como tempestades.
Depois, adormece-se e acorda-se com o mesmo dizer: - nunca e sempre -
No fim, entrego-me ao que escrevo depois de ter sangrado com o que leio, a morte nada ensina, não sei o que é essa coisa - de vida eterna e deus pai - a morte ensina-me a vida, e todos os dias que me restam, ou que me sobram. O fim é o fim. Até lá encho-me de cheiros e paisagens, de abraços e vida o quanto puder.
Estarei a descansar na lonjura da planície, a tentar semear semanas sem estatística, sem a inversão crescente das análises a entregar, sem planeamento, sem agenda.
Estarei na lonjura que me pertence, na música a que pertenço, no sal que me há-de temperar.
Depois, a lonjura termina, o recomeço amanhece, e mais dias de semanas de meses aguardam tudo de novo.
Agenda. Objectivos. Resultados.
Salvam-me os fins de tarde, e os poetas que me albergam.
A música não tem pressa, espera pacientemente que arda e se incendeiem as colcheias e as semi colcheias, os acordes menores, os maiores, os de sétima, os de quinta diminuta, e todos, como um lume brando, vão subindo, misturado-se com um poema que se quer mensageiro, disruptivo, indendiado de hiperboles, pleonasmos e outras figura de estilo. Assim, nasce a cantiga que mais tarde me embala e acorda, me emociona e transforma.
Adoro um bom "não sei". Não sei, soa-me a honesto, soa-me a vôo de aprendiz de feiticeiro, soa-me a liberdade. Que bom saber "não sei". Que alívio bom.