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invento em cada navio, viagem,
em cada pessoa, história,
em cada dor, abraço,
em cada olhar, tristeza,
em cada sorriso, disfarce,
em cada música, alegria,
em cada poema, sangue,
em cada lágrima, vida,
em cada noite, alvorada,
aqui, nesta praça, invento poesia.
Um homem envelhece mais rápido quando conta somente os anos que tem.
Há dores que são viuvezes antecipadas pelo afastamento.
O demónio faz falta para existir contraponto existencial.
Todos os medos têm o meu nome,
todos os sorrisos têm o meu cheiro,
A cegueira que me acompanhou o medo foi a libertação,
quando juntei os bocados de miséria em ressurreição.
As amarras foram em mim: - poesia adoentada -
Incomoda-me ver-te de negro nesse olhar a dançar em passos certos e o teu corpo a fugir-te dos sonhos. Sei da ânsia dos teus dias e o medo das tuas noites. O teu fogo é, o teu peito farto. As tuas mãos trémulas pronunciam - saudade -
Um dia igual a tantos outros, não será igual a nenhum deles.
Tenho uma filha. Mulher. Menina. Criança. Adolescente. Adulta. Independente. Autônoma. Pensante. Meiga. Terna. Arisca. Senhora de si. Decidida. Com massa crítica e filtro. Educada. Assertiva. Louca. Ajuizada. Amiga. Cuidadora. Friorenta. Com sentido de humor. Inteligente. Informada. Culta. Humana. Empreendedora. Livre, liberta e amorosa.
Vai lá ela celebrar dias assinalados acerca de direitos que já são dela por direito próprio?
Claro que não vai.
Obrigado, filhota.
Amo-te mulher.
Conheci mulheres que se enfeitavam de flores no cabelo,
e velhos anciãos ocupados de mar,
soube,
que se sobrevive antes de envelhecer,
para se envelhecer sobrevivendo.
Bebi vinho e resisti em divisões vazias,
escutei as rugas do tempo,
li poetas vencidos,
em quartos de lua,
a envelhecer sobrevivendo.
Maltratei o meu corpo,
vi o meu rosto separar-se de mim,
deste pedaço esfarrapado,
que me sobra e que me resta,
a envelhecer sobrevivendo.
O meu vil fígado desembargou no porto dos náufragos,
dos errantes e titubeantes seres imperfeitos,
incultos da sabedoria massificada.
A minha oração são três vocábulos,
a sina não normalizada da lei humana,
e a liberdade dos entendimentos.
Assim,
me passeio acompanhado desta solidão de companhia,
na minha morada fiscal - como o vento -
Esta escrita cardíaca e desenfreada,
recolhimento da música e do silêncio,
construída por enclaves onde o sol desvirginda a luz,
e o cheiro rasga o nevoeiro da poesia,
onde a serra e o mar se desordenam.
Esta escrita cardíaca sobra-me do coração.
Debruço-me na janela a acreditar que por lá passarás,
mas não,
não mais passaste,
há muito tempo que não passas.
Enquanto isso, invento amores, saudade e tempo presente do verbo inventar.
Adormeço com dois sóis,
o da tarde,
e o que espreito debruçado na janela por onde já não passas,
mas que teimo em inventar o teu passar.