As tuas mãos labirínticas. O bairro desfalecido. A Inês que deixou de ser mulher para ser o Ricardo. O pré-conceito dilacerante e obstinado. O mar entediado com a maledicência. O Ricardo frágil. A Inês quase forte. Gosto dos dois, que um pénis a mim não me altera o gostar.
A coragem vive mais do que a cobardia. Os drogados não se importam com a Inês. Os alcoólicos "desimportam-se" com o Ricardo e, se ele pagar um copo, podem até dizer:
“eu não sou, mas tenho um amigo que é ”
A Inês, tem uma amiga e um amigo que são. São os dois no mesmo corpo:
Estou em insolvência religiosa. Descobri também que o pecado é uma invenção e o amor um caminho para a redenção, seja lá isso de redenção o que for. Hei-de morrer um dia, desnascido, mas vivo, sabedor que não há maior prisão que a do pensamento.
Mas eu sou ateu não tenho fé. Nem precisas de ter, aqui, enfiamos-te a verdade pelos olhos adentro.
Saí ainda mais descrente da fórmula conveniente da fé, confirmando que a quaresma nada tem a ver com o medo, que a divina providência nada tem a ver com a tempestade, que o castigo e a justiça divina são como os livros do major alvega que se desenham e inventam.
Não me entra pelos olhos adentro nem a verdade, nem a cegueira do pensamento em fórmula divinizada.