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Cardilium

Cardilium

“eu não sou, mas tenho um amigo que é ”

As tuas mãos labirínticas. O bairro desfalecido. A Inês que deixou de ser mulher para ser o Ricardo. O pré-conceito dilacerante e obstinado. O mar entediado com a maledicência. O Ricardo frágil. A Inês quase forte. Gosto dos dois, que um pénis a mim não me altera o gostar.

A coragem vive mais do que a cobardia. Os drogados não se importam com a Inês.  Os alcoólicos "desimportam-se" com o Ricardo e, se ele pagar um copo, podem até dizer:

                                         “eu não sou, mas tenho um amigo que é ”


A Inês, tem uma amiga e um amigo que são.  São os dois no mesmo corpo:

- paixão, coragem, mãe, madrugada, esperança, mundo, solidão e magnificência –

 mas são do verbo ser, antes mesmo da maldita desdita.

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Insolvência religiosa

Estou em insolvência religiosa. Descobri também que o pecado é uma invenção e o amor um caminho para a redenção, seja lá isso de redenção o que for. Hei-de morrer um dia, desnascido, mas vivo, sabedor que não há maior prisão que a do pensamento.

Palavras e degraus

Estas palavras moram nuns degraus ondulados e gastos pelas passadas,

são sombrias,

e o amor sabe aos olhos de quem entorna maresia,

 

os beijos soam à pacatez do silêncio,

o toque a fresco,

a luz a madrugada,

 

as colinas dançam de azul fresco à janela,

a floresta tem a cor de cabelo prateado,

o pôr-do-sol esbate-se rubro, ardente e despenteado,

 

as ruas têm nomes de rua,

os becos, gente e vida,

as esquinas gemem num sussurrado murmúrio de carpideira … – saudade –

 

a delonga espera faz os dias sempre iguais,

o juízo enlouquece,

as divisões estrangulam-se, as horas ficam sem tempo e o corpo sem amor.

Pensamento em formula divinizada.

Mas eu sou ateu não tenho fé. Nem precisas de ter, aqui, enfiamos-te a verdade pelos olhos adentro.

Saí ainda mais descrente da fórmula conveniente da fé, confirmando que a quaresma nada tem a ver com o medo, que a divina providência nada tem a ver com a tempestade, que o castigo e a justiça divina são como os livros do major alvega que se desenham e inventam.

Não me entra pelos olhos adentro nem a verdade, nem a cegueira do pensamento em fórmula divinizada.

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