A vida a ser vida. Inesperada. Sem aviso prévio. Injusta quiçá, seja lá isso da justiça o que for. Fica a fogueira que não se apaga desde a menor idade até hoje e já lá vão uns anos. Ficam os acordes dedilhados, o monte do alvorão, o pierre, a paula, a peseta, o joquinha, etc e tu, agora sem esperança de um novo abraço, partiste. Como sabes não acredito que sejas mais uma estrela do céu, tu também não, também não precisamos, valeu a viagem. Sei que também não acreditas que será melhor o que aí vem, aí erámos alinhados com o Saramago, detínhamos a paz do ateísmo presente. Ficou o que ficou. Ainda fomos a tempo da descoberta que abril nos deu, a liberdade, os poemas, os concertos, o resquício de maio de 68 nos anos 80. És o Piquinhas, o Henrique, e serás sempre, aquele meu velho amigo que quando nos cruzávamos dizíamos o suficiente até ao próximo encontro que podia ser a 300 km de onde vivíamos, era recorrente, cruzarmo-nos mais por lá do que por cá, porque isto agora não é como foi. Abraço meu velho, em sol maior. Rider on the storm
Observo mais do que o mundo deste ermo sentir. Observo-me. Observo o que foi o caminho. Recordo o que foi querer sem crença. Recordo o primeiro dia sem dores. O primeiro sorriso e abraço desconfiado de juntar outro corpo no meu. Aqui, neste ermo sentir, relativizo quase um quarto de século de outra vida que me foi permitida ser vida. Aqui, neste ermo monte apaixonado, sentado numa pedra amiga, relembro a resistência que é agora a paz toda em mim. Não tarda, desço pela estrada de terra suave de sombra, e por aqui me deixo ficar nesta descoberta de me reviver nestes passos em que sou a minha vida revivida nestas horas felizes em que por aqui me encontro.
Observo melhor o mundo deste ermo sentir. Observo-me melhor no cansaço destes passos dados. Eu e os passos. Os passos e eu.