Estação mato miranda
Ao longo do linha do caminho de ferro,
esperava a cada hora a máquina que te havia de trazer da cidade,
eu,
o campo,
as arvores,
e a bicharada por companhia.
Todos,
na espera que a próxima estação parasse em mato miranda.
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Ao longo do linha do caminho de ferro,
esperava a cada hora a máquina que te havia de trazer da cidade,
eu,
o campo,
as arvores,
e a bicharada por companhia.
Todos,
na espera que a próxima estação parasse em mato miranda.
Vai de verso em verso, de perfumada em perfumada cor, de sílabas descondizentes e soletradas muito devagar.
Vai de canção em canção, de noite após noite, e este jogo - bom - de presenças, nunca mais termina em nossas bocas desejadas.
Foi de silêncio em silêncio, de aguardadas horas apetecidas, de tanto mar observado que eu já julgava saber - a hora de praia-mar -
Foi, depois, de saudade em saudade, de aflita melancolia, de noites sem sílabas soletradas mesmo devagar - muito devagar -
Foi o fim.
Se mais tarde voltares acorda-me. Posso estar adormecido por opção ou num fingimento de sono para não te sentir entrar. De qualquer forma, quero e não quero sentir-te. Quero e não quero saber. Se não voltares acorda-me na mesma para que esta dor passe, para que se exclua de mim esta tristeza de não te querer, de não me quereres, de não aceitar este desapaixonar que tanto queria, de aceitar este insignificante querer de não querer.
Acorda-me de qualquer das formas, voltes ou não.
A lua sobrevoou cheia, a varanda onde eu a espero. Circunspecta, radiante de uma luz sem parecença, foi andando para o outro lado do mundo enquanto o sono me atordoava. Eu, fico sempre num sonho acordado imaginando salmos do profeta que não creio. Mas é ali que tento o sentido do mundo. A cada espera. Em cada passagem. No meu eirado.
Todos os rapazes que pensam que são raparigas,
e todas as raparigas que pensam que são rapazes,
eu entendo,
todos os rapazes que sentem que são raparigas,
e todas as raparigas que sentem que são rapazes,
eu aceito,
todos os rapazes que sentem que são rapazes,
e todas as raparigas que sentem que são raparigas,
eu entendo, aceito e gosto,
e gosto de gente de cor que não a minha,
e dos outros,
de todos os outros e outras e de não outros e outras também.
Gente é gente e eu sou gente igualmente.
Igualmente.
Esta época estremece-me o silêncio,
os canteiros de hortências fazem-me reconhecer o local,
não há mais mar em mim que a descoberta desta praia sem gente,
deste mar sem praia,
desta vida singular de começo de verão.
Recomeços em todos os Julhos.
As feras que o ópio me deixou demoram mais de uma vida a amansarem. Preciso saber como crescerem. De que país vieram. Se foi na madrugada acesa ou em fresca manhã revoltosa que se inquietaram em mim. Feras vorazes e meigas. Prazer redobrado e impostor. Pessoas desfiguradas. Amigos de partida. E eu, esfarrapado trituro os dias todos iguais. Todos com o mesmo caminho. Com igual partida e regresso. Com as noites todas equivalentes disfarçadas de diferença. Depois, o ópio acaba e tudo recomeça com a mesma cega vontade e termina com a igual escolha de dormência adiada.
As feras que o ópio me deixou, demoram mais de uma vida a amansarem.
Um dia, quando a minha memória já não for memória, nada do que juntei terá algum valor ou relativa importância, assim, dar-me, é como depositar a minha memória na equidistância de outro alguém.
Se a memória se prepara para me trair, fidelizo-a antes do episódio espelhado em minha mãe. Ela não tem memória, e, não entendo que seja ou não seja mais feliz por isso.
Somos todos a memória de alguém.
Que fosse mais d´alma do que d´pranto,
esta miserável solidão disfarçada de ócio e peste,
no sentido infecioso de todos os poros da minha pele,
e da dificuldade de discernimento,
do semeio da saudade e cultivo da presença.
Os escassos minutos felizes,
atormentam de culpa - |as horas| -
A força de um povo,
a garra da liberdade,
o direito ao país.
Cuba vencerá.