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Cardilium

Cardilium

Extracto de palavras para verem o sol um dia depois do sol se pôr

Punha-se o altar de lavado. Mulheres de um lado, homens de outro. A outros tanto fazia, eram homens de fé no sentido não sexista do termo, eram de esquerda, ateus, anti estado novo. Era por esses que eu me enfeitiçava, homens e mulheres, era a minha religião, a liberdade, a poesia na canção, as flores de cheiro primaveril, abril, maio, devia ser por aí. 

O mar, esse sempre me trouxe e levou. O grito ainda me prende a garganta. A recordação ardente solta-se no sorriso que guardo de ti. A França devolveu-te em poemas que me trouxeste. Devia ser por aí. Maio, Abril. E foi. 

Deserto descansa despovoado

Todo o deserto sucumbe à infame sombra do oásis em vislumbre alienado, como se a má fama fosse vizinhança curiosa e sabedora das horas da madrugada.

Sopra o vento em gesto de carícia. O deserto descansa despovoado.

Cais do sodré

Saudades do cais do sodré de oitenta quanto mais de há um ano.  Muita saudade e musica a condizer. Gente a preceito e noites até ser dia. Os jardins em frente ao rio a abraçarem-me. Cais do meu porto. 

Os sonhos decidem-me

Os sonhos pulsam-me como o coração,

arrebatam-me como um quadro que me paralisa,

e decidem.

 

Tudo o que alcanço,

antes foi um sonho,

a pulsação é braçadas de flores que caiem das estrelas,

é a última realidade que guardo na gaveta,

de amontoados papeis,

que aguardam ver a luz do dia.

 

Os sonhos decidem-me.

abraçamo-nos assim

Se não for mais do que amor,

não entendo então o que é esta desmedida vontade de saudade tua,

estas horas por aqui comigo,

as recordações das tuas palavras primeiras,

o teu sono velado,

o teu cheiro.

 

Hoje,

Sobrevivo com a tua voz de cada vez que vejo escrita a palavra filha e começo por um:

- Olá Joana, tudo bem?

e começamos,

eu sei de ti,

tu sabes de mim,

e abraçamo-nos assim.

Sempre após, nunca durante

O amor e o tempo da desgraça quando fogem um do outro,

a mordaça que fica entre os dentes a conter as palavras,

o arrependimento depois do fogo se avassalar no poço fundo sem luz.

 

O amor, essa incrédula forma de não sentir dor,

o desamor, esse incrível formato de só sentir dor,

ambos se ajustarão ao tempo da existência na pacatez do silêncio.

 

Sempre após,

nunca durante.

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