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Cardilium

Cardilium

Do céu para a terra

Tenho com nitidez de alma ouvido o meu coração no silêncio da altitude, no cansaço do caminho.

Tenho avistado o céu e a terra de onde normalmente avistava o céu da terra, e sinto saudades. 

Amanhã voltarei a subir para sentir, gosto da minha companhia, amiudadamente.

Estado novo de velho

As mulheres encantavam-se com encanto dos seus filhos que lhes ofereciam a dádiva da liberdade nas tardes de jardim. Era o seu momento. Valia pelo dia. Valia pela vida.

Ainda há quem exclame que no tempo do estado novo é que as coisas iam direito. Ainda há quem aceite que os filhos que eram a vida, navegassem numa guerra que era a sorte de alguns e a morte de tantos. 

Ainda há quem ... ainda há.

Mais vivos do que era suposto existir.

A destruição do tempo

A destruição do tempo na decomposição das almas, os amigos que se perdem, a miséria que alastra, a parca esperança emagrecida, o mundo atómico sobreaquecido, os lares sem lar que se amontoam silenciosos, a pressa com que as horas fogem à vida.

A destruição do tempo incapaz de se construir em alicerces de surdez.

O tempo que não se escuta não se conhece, destrói-se.

Da minha real altura, do meu engano tamanho.

Os solavancos da estrada que me levou até à hipérbole com que descrevo o bater deste peito ressuscitado, é a semelhança entre o caminho e a ansiedade, a diferença entre ficar sem sentir, ou arriscar partir e chegar. Descanso-me agora em frondosa e fresca paz, murmurada pelo ribeiro que me vem buscar pela mão, e me convida a subir à calma companhia de mim mesmo, na paisagem que agora me é pertença. Cheira a mato rubro e a estação viva. Ando devagar reconhecendo-me a este sonho que se vai realizando. A serra quase ali, a terra deixada para trás. Com outros olhos agora me vejo. Com outros olhos agora admiro a pequenez da grandiosidade com que me vi enganadoramente. Agora sou da minha real altura, do meu engano tamanho.

fotos enfeitadas de ser

Não há bons fotógrafos. Há quem domine a tecnologia de tirar fotos. Depois há os bons fotógrafos, os que captam sensibilidades momentâneas de alma a condizer. São as fotos enfeitadas de ser.   

Meloso ar que me afaga

Já que é primavera as papoilas que dancem,

há tempo,

os dias são maiores e o perfume é música no ar.

Que se dance à sombra e ao sol,

à alegria,

às livres e soltas bênçãos com que as cores embrulham os campos,

que se abrace o meloso e moreno ar de fim de tarde.

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