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Cardilium

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Sempre em mim

Tudo está entretanto e novamente a ser como se não tivesse existido agosto ou dezembro. Tudo está como deve estar em janeiro. Não é o mês.  Não é o dia. Não é o ano. Não é alguém. Não é ninguém. É de mim. Sou eu.

Janeiro é como numa recta interminável sem linha do horizonte. É com se a lua fosse cheia mais de trinta e um dias. É como se a noite e o dia, a madrugada e o pôr-do-sol, não tivessem que se esconder ou mostrar, como se não houvesse vida ou morte. Esperança ou medo.

Não é o mês. Sou eu. Sou eu sempre. Sempre. Eu.

É em mim que habita o que me invade e tolero, o que escolho e intuo.

É em mim que se atraca esta intuitiva forma de ser. Sempre em mim.

Paz, liberdade e morte

Os anos acumulados de Abril são como marinheiros que choram amor nos portos de onde partem.

As mulheres e as lágrimas, os filhos que inquietamente ferem o último olhar antes do silvo estridente de levantar ferro.

A liberdade define a paz à morte.

Caminho (s)

Chego cansado. A noite ja é noite há umas boas horas.

Envio os sapatos para sítios diferentes. Despeço-me do tempo e deixo o meu corpo cair na cama mais cansada de mim, que o meu próprio cansaço.

Falta-me cama. Faltam-me horas. Sobra-me sonho. A janela num gesto de simpatia deseja-me uma sossegada noite.

Hei-de acordar mais tarde, cansado como adormeci. Procurarei os sapatos que se terão escondido dos meus pés.

Erguer-me-ei sem saber ainda que acordei e a janela simpaticamente desejar-me-á, juizo.

A janela do meu quarto sabe tudo de mim, das estrelas, das manhãs e da vizinha do prédio de frente que ela admira.

Já é dia há um bom par de horas quando me meto ao caminho. 

 

Pandemicamente alterado

A liberdade define que aceitemos a diferença. Se uma qualquer aferição de opinião revela que 70% dos inquiridos têm opinião diferente dos restantes 30% isso quer dizer que, 70% tem direito à sua opinião e os outros 30% também.

É de simples e fácil entendimento se, nenhum dos grupos, supramencionados quiser dominar a opinião do outro.

É assim que começa a paz. É assim que podemos conviver com a opinião diferente da nossa. A ignorância normalmente potencia a não aceitação. A limitação é resultado disso mesmo, ignorância.

A ciência e a poesia são exemplo disso mesmo, da diferença coabitar harmonicamente.

Em relação ao tema vacina covid19 e dos entendidos e estudiosos do tema virologia (são aos milhares) devem uma das duas coisas:

- quem não quiser pertencer deve faze-lo e, um não está certo e o outro errado, e o contrario também -

é a liberdade individual em todo o seu esplendor.  Abracemo-nos com as diferenças culturais, de escolha, de património emocional, de passado e todas as diferenças que geminam como cogumelos na contemporaneidade dos tempos.

Em jeito de relembrança: A liberdade define que aceitemos a diferença (s).

últimos beijos

Os últimos beijos não sabem a últimos beijos. Os últimos beijos têm esperança de as nuvens baixas não terem chuva.

Se eu tivesse percebido que eram os últimos, teriam sido apenas os primeiros.

Janeiros

Todos os janeiros são frios e cavernosos. Morre-se mais em janeiro  do que de idade. Chora-se mais, está-se mais só.

Janeiro é a ressaca da esperança adiada, é o por os pés no chão rumo à primavera, é o epilogo do passado, é a terra a ajustar-se à sementeira.

Janeiro é demasiado cruel, justo e real.

Mares

O mar,

a enseada branca,

o jardim da maresia,

o banco imaginário onde se senta a alma,

a poesia.

 

Os homens que enchem as mulheres de ausência e filhos,

pescadores de mares,

lágrimas e frio.

 

O mar,

a enseada,

as mulheres de saudade,

o pranto.

 

 

 

 

 

 

Mãe

As vezes sonho que te escrevo mãe,

e te sepulto a brandura com que me cuidaste,

e ressuscito a clarividência falecida,

e morro eu de umas coisas e nasço de outras,

e tu observas,

e eu perdido enlouqueço-me,

e tu morres-me devagar mais eu.

 

Às vezes mãe,

sonho de nós outros sonhos que não sonhámos.