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Cardilium

Cardilium

Futuro

Das ruas da minha infância, trouxe os sonhos que cresceram comigo.

Ouvi falar do futuro que em cada dia em mim nunca existiu.

Futuro é como o resultado de uma equação que se resolve sempre no presente. Assim é o futuro em mim, o presente a dividir pelos dias.

São sempre os dias divididos pela emoções. São sempre as ruas da minha infância a felicidade.

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os bairros dos poetas, são

Os bairros dos poetas são feitos de:

- pobres e sábios,

- anónimos desconhecidos,

- o mundo inteiro ausente de multidão,

 

pecado livre e pagão,

mulheres aos versos,

música nas mãos,

 

ruas engradecidas,

escrita do coração,

os bairros dos poetas, são.

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Lirios

Os lírios são lágrimas de mar perfumadas,

tempestade desfalecida de luz e poesia embelezada,

são essência e convicção.

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olhos de quem entorna maresia

Estas palavras moram nuns degraus ondulados e gastos pelas passadas,

são sombrias,

o amor por aqui sabe aos olhos de quem entorna maresia,

os beijos soam a palavras dilaceradas na pacatez do silêncio,

o toque é fresco e suave a luz da cor da madrugada,

dispo-me de mim e roubo-me um sítio a que não pertenço,

as colinas dançam de um azul fresco à janela,

a floresta tem a cor doce de cabelo prateado,

o por-do-sol esbate-se rubro, ardente,

despenteado,

ancoro e, adormeço-me no meu olhar.

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Gostava de me dar com outro tipo que não fosse eu, mas fosse

Gostava de me dar com outro tipo que: - não fosse eu.

De ter um amigo perto que: - não fosse eu.

De poder confiar num gajo que: - não fosse eu.

 

Na impossibilidade de não ter ninguém por perto que não seja eu, sou eu mesmo a quem me dou. Sou eu mesmo que estou por perto. Sou em mesmo em quem confio quando me passa a desconfiança acerca de mim semelhante.

 

Não sou o meu pior inimigo, longe disso, mas sei o que isso é. Sou apenas a decisão entre o que preciso, o que tenho, o que quero, o que sonho, o que gosto, o que canto, o que vejo e o que sou.

Sou eu. Assim. Duro e meigo. Sensível e consistente. Feito de história. De incríveis histórias que nem a mim me parecem reais. Depois olho e, quando me vejo, acredito.

 

Fui o que hoje sou.

Fui a minha essência, humanidade e vida.

Fui a morte na primeira pessoa. A solidão. A tempestade e o mar.

 

Posso falar do sonho mais lindo que tive.

Do alcance dos meus braços.

Do desígnio da vida. Do destino não ser destinado.

 

Gostava de me dar com outro tipo que: - não fosse eu, mas fosse.

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Louco amanhã

Amanhã serei o louco que dá nome às pedras,

o ajuizado que escreve saudade nos lençóis perfumados de alfazema,

o curandeiro dos males sossegados no tempo,

a ausência de madrugada,

o orvalho esperado nos braços apertados de abraco.

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(desnatural – não natural)

tanto vazio que se depara com o obsoleto desocupado de flores,

sobram vasos em ruínas que ninguém regou,

deixar morrer flores não tem indulto possível,

deixar-se nascer flores à mão de quem as vai deixar morrer não tem clemência,

os vasos partem-se aos pedaços,

primeiros as mãos dos vasos,

depois o coração das flores,

depois o chão deixa de ser raso,

depois o perfume desvive,

depois,

morrem as flores de morte artificial,

(desnatural – não natural).

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