Esquina da saudade
A noção de tempo é-me breve,
esquinas inversas,
saudade.
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A noção de tempo é-me breve,
esquinas inversas,
saudade.
As colinas dançam de um azul misturado de céu.
A floresta tem a cor de cabelos.
O sol põe-se ardente.
O olhar ancora num porto adormecido.
Os meus olhos.
Num casario velho e estafado, quase ruinoso e decadente, é o sítio onde me habito.
há jazz ao Chiado de Pessoa,
uma mulher empalidecida pede adormecida,
diz-me ter fome de pão,
e sono de dormida,
desperto-me neste mundo existente.
São duras estas horas em que o tempo não tem tempo, onde a companhia se farta dela mesma, onde a sombra inventa outras sombras.
São duras estas regras das 23h às 05h, esta ausência de gente que faz os dias teram gente dentro.
São duras estas horas cansadas de dias, estas noites exaustas de noite, estas férias com horários, este trabalho sem relógio.
É duro cuidar desta esperança enlouquecida das 05h às 23h, onde as árvores se ajoelham comigo.
A poesia não precisa de seguidores ou adeptos, precisa de amantes.
Dias cinzentos que não nascem, que não habitam, que nao acabam.
Dias de árvores retorcidas de cansaço e espera.
Dias desacreditados de natal, dias frios de frio conseguidos.
A cor da pele das pessoas não se repete naquela cidade interior, onde o sol e a chuva salpicaram de igualdade as diferenças que os homens das leis repartiam como propriedade.
Foram livres do preconceito da raça, pelo arco íris.
Foram aperfilhados pela paz da montanha e os ventos.
O homem entra na noite esperançado de encontrar flores que o reconheçam.
Em alguma loja antiga as ruínas cuidam das flores.
Flores órfãs. Flores de existência soberba e sem canteiros onde pertencer.
O homem pára. Esconde-se da viuvez de saudade.
Limpa a lágrima que lhe cai segurando-a.
A guitarra roufenha estala acordes que gemem o caminho que lhe falta fazer.
As flores, as ruínas, a orfandade da viuvez da saudade.