Complexa normalidade
As palavras mais eruditas do mundo não descrevem a complexidade das noites acordadas dos meus pensamentos, as simples tornam-nos a mim e a eles descrentes da passagem complexa à normalidade que não creio existir.
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As palavras mais eruditas do mundo não descrevem a complexidade das noites acordadas dos meus pensamentos, as simples tornam-nos a mim e a eles descrentes da passagem complexa à normalidade que não creio existir.
Os ruídos melódicos do piano sussurram acordes que já não cabem no peito.
Eu, bato com os dedos no braço da cadeira tentando descobrir o ternário compasso. Enquanto ausente desabitado de mundo, fora de mim, o mar, em aviso revoltado desenha a beleza que tem o sal a soltar-se das ondas em lágrimas que terminam na praia, que falecem e ressuscitam na areia das dunas sentadas na encosta.
O piano continua juntando sustenidos com bemóis, menores com acordes de sétima, e os meus dedos continuam tentado acertar a compasso.
Imperfeita luz que se fragmenta na unidade invisivel da cidade. O dia transforma-se em dia. Por enquanto somos só nós, depois virá uma multidão. Há dias encurralados nas semanas que correm sobre palavras. O mundo inteiro está entre nós próprios, como o fogo.
A imperfeição da luz fragmentada e livre fá-la perfeita.
Sem estorno ou contas por acertar,
de todo o mar que nos escondeu nas madrugadas impuras que não o eram,
das manhãs quase ressacas da partida do meio-dia,
e das tardes sem vontade de existir,
não podia ter amado assim sem descontrolo e incerteza,
sem ser duro e bom,
triste e desejado,
amargurado e apetecido.
Ainda me cheiras quando me acordo.
Desconexa visão aprimorada de uma cidade em forma de loucura.
Os homens são os cravos, as mulheres as mais perfumadas rosas.
O pensamento não valida o que se tem na voz.
A solidão é um sentimento de culpa pelos amores que não se encontram ou perderam.
Atrasa-se a hora ou adianta-se e não vale de nada, por isso mesmo não me preocupo, que eu já não quero saber mais de tempo.
Recomendo-me menos palavras que soem impercetíveis e loucas, que promovam olhares de noites escuras, que não alcançam a orgulho com que foram soltas, que ecoam em mentes curtas de espaço na grandeza da presunção de um ideal inalcançável, absorvidas a quem lhe basta o mundo que existe quando se sai à rua e se dá os bons dias à vizinhança. Recomendo-me a mim mesmo uma não recomendação. Que soe a tristeza, a arrogância, ao que for.
É apenas uma recomendação.
Em frequente e frequentada loucura, encaminho-me em precipícios e caminhos.
Frequentemente.
Um rosto cheio de contradições.
Tentar uni-las num vocábulo era o meu desafio perdido, tudo era mais do que as palavras poderiam dizer na história do teu rosto.
Mas foi-me terrivelmente facil. Eu revia-me nesse sorriso feito de lágrimas, nessa presença de solidão, nessa acompanhada raiva misericordiosa, nesse perdão de nós próprios.
Rosto de contradição.
... vieram os lacaios do ditador com a graça de deus prender os homens que arriscavam a liberdade, eram desordeiros que promoviam a igualdade. Passaram mais de quarenta anos e o disfarce está mais elaborado. A noite continua presa e o mar continua fugidio na sua caminhada. Os homens distraiem-se com pensadas directrizes votadas por unanimidades combinadas à esquerda, que a esquerda agora endireita-se muito ...
App stayaway covid.
Obrigatória é uma impossibilidade, recomendada é uma possibilidade com alguma utilidade, mas bom bom era educação e cidadania.
Às vezes a ignorância arrepia-me, hoje foi um dia desses, seja por defeito, por excesso, por negação ou egoísmo.
Sem paranóias, com responsabilidade.
Sem desculpas, com amizade, amor até.