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Cardilium

Cardilium

rouca voz enfeitada de flores

Sucumbo à tua rouca voz enfeitada de flores e imobilidade de transeunte momentânea,

comparável a uma qualquer obra prima que nos rouba segundos de glorificação e apoteose,

sucumbo,

renasço,

e tu nem reparaste nos meus olhos disfarçados de sorriso e ausência.  

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A vida é maior do que a memória

…  Saí na loucura das noites distintas com o mundo inteiro nos meus braços em correria desenfreada e omnipotente.

As árvores no meu olhar. O mar a rebentar nos meus ideais. Uma anunciada ressaca na manhã seguinte.

Saí de noites, já a noite quase se avizinhava outra vez, com poetas a gritaram versos e canções de madrugada, a adormecerem de cansaço no meu fígado.

Saí de noites erráticas com certezas que se diluíram em copos e solidão. A viagem decorreu num manhã sem esperança nem sol.

A vida, é maior afinal do que a memória.

Reconstroi-se em contramão …

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A memória são nódoas negras e feridas saradas

A memória são laivos de esquecidos bocados de vida,

que voltam para sangrar a alma ou purgar o coração,

são como ruas desconhecidas de caminho,

cidades longínquas,

ou os primeiros beijos na boca cega do desejo.

 

A memória tem gargalhadas e choros permanentes,

tem cheiro das camas lavadas,

suor dos corpos alvoraçados,

fadiga e cansaço,

descanso e saudade.

 

A memória são: - nódoas negras e feridas saradas -

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Amar o que d´ mar.

ó mar o que é d`amar,

à terra o que é d´terra,

ao céu o que d´céu,

à solidão o que lhe pertence, 

e às mais vazias e ocas determinações conjecturais,

o aplauso de toda a ironia,

a miséria de toda a mentira.

 

Que ressobre pequenos encantos,

arvoredo e poesia.

 

Amar o que d´ mar.

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Como te digo eu hoje no presente que já existi no passado?

Como te digo eu hoje no presente que já existi no passado?

 E que no passado não tinha nem as mesmas lágrimas nem os mesmos sorrisos, e os abraços eram dados em fuga constante de mim e do mundo. Que no passado houve dias que não clarearam, e o meu único pensamento se resumia a uma constante dilaceração diária.

Como vais crer tu que eu já fui eu? Que hoje eu sou um eu acrescentado, onde todos os dias existe um eu que sou eu apenas e que tem saudade e agonia de mim mesmo no passado.

Creio na evolução da alma, na necessidade do reencontro pessoal, na relação individual e na estrutura do pensamento.

Creio na amizade por mim. Sou de pouca gente à minha volta, de pouca gente mesmo, em mais de dois terços da minha vida não existe ninguém, aqui e ali circularam umas pessoas que vou alterando com a vida.

Há livros, músicas, tentativas de poesia e construção de canções que me constroem mais do que gente.

Como te vou eu dizer hoje, que já fui passado?

Um passado duro e leve escolhido e eleito pela sorte, coisa que não acredito como destino. E de entre todas as maldições que a sociedade elabora em conceitos de modernidade e correntes políticas, sou intocável passado e futuro, que outra merda não existe na vida da gente, se não a terra que nos aguarda.

Como te digo eu hoje no presente que já existi no passado?

Num belo, ensinado e aprendido passado!

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Casa das folhas

Os passos que deixo a chiarem com a madeira,

as janelas sem o tempo que o tempo destruíu,

o velho estendal sem corda,

o galinheiro sem telhado,

a casa do cão sem cão,

as silvas como inquilinos,

as portadas a meia porta, 

os ninhos aninhando as primeiras folhas secas derrubadas pela chuva.

 

Na cidade,

tudo composto sem sorrisos que acompanhem.

Na aldeia,

os sorrisos decompostos com a vontade de ficar,

com vontade de reconstrução e sonho. 

Casa das folhas rasgadas em mim e terra que me suporte.

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Nexo

Falaste-me de nexo de casualidade, de coincidências, de destino, de deus, de astros, de energia, de quebranto, de autores consagrados, correntes de opinião, meditação, reiki, psicodrama, filósofos, médium, canções, etc...

Falaste-me da tua existência extrínseca, quando o vazio é intrínseco. 

Falaste-me das lágrimas antes do choro. Do fim antes do início. Da desilusão antes da ilusão. Da aceitação como a impossibilidade da solução. 

Há palavras que não são de dar, são construções partilhadas de silêncios, abraços, pensamento convergente e amor. 

Há palavras quê são os passos que nos encontrarão. Depois sim. Depois a casualidade e a coincidência serão o destino.

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à espera da inspiração

Fica fria a candura do desejo, a ingénua vontade transforma-se com a noite em segredos que pesam mais do que o meu peso pesa na terra.

As estrelas sublinham a pontos de luz o sufoco que tenho encravado na garganta, ligação directa a este cansaço que não me permite sentir leve com cheiro a flores.

Vou morrer assim, preso, à espera do verão, à espera das marés que trazem as gaivotas à praia, à espera da inspiração enquanto sinal e redenção.

Morro assim, preso, à espera de vida. Mesmo que dure mais mil anos, aprisionado sou: - extinto -

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“tweetando” os pôr-do-sol

Revoltam-se os pulsos doridos de cerrados se erguerem.

As esplanadas continuam cheias de revoltados em sossego da árdua luta de ideias, as praias também, os restaurantes por solidariedade também, até os mais caros.

Ficaram os campos desertos e o povo a desaparecer com o emprego. Contenta-se a gente com um “quanto baste” de subsídios. 

Isto não é a ingenuidade do destino, é a arquitetura dos que distribuem a riqueza produzida, a distraírem-nos.

E nós distraímo-nos ... “tweetando” os pôr-do-sol. 

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