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Cardilium

Cardilium

as ruas, as avenidas e o rio

As ruas, as avenidas, as flores das ruas, as arvores das avenidas, as cores que descem as ruas, as cores que sobem pelas ruas, os cheiros das avenidas, o rio espelhado ao fundo, ora pelo sol, ora pela lua.

Não fosse cada sentir meu, e as ruas, as avenidas e o rio, parecer-me-iam sempre iguais.

Mas não, são sempre tão diferentes.

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A viagem é alucinante, depois, o amor entontece as almas.

A viagem foi alucinante pela pressa de chegar e ver os teus olhos profundamente saudosos e a tua boca saborosamente quente logo por cima do teu peito incandescente. A viagem foi dura e longa, mesmo roubando ao tempo a distância. A distância foi severa e extensa mesmo que seja quase nada, porque quase nada não existe naquilo que nos separa. Quase que te vejo da minha janela, e mesmo não te vendo, sei que passaste, ou passarás, sei que mesmo que entretido nos meus livros, ou a desejar na minha música, sobra sempre uma alucinada viagem apressada de ver os teus olhos profundamente envergonhados com os meus.

Os nossos olhos envergonham-se mais do que nós mesmos, como se fossemos homem e mulher antes da estupida evolução da posse.

A viagem é alucinante, depois, o amor entontece as almas.

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Já me fiz amigo de um poeta

Acordei com o tagarelar de uma feira.

Uma feira onde se apregoa e compra. Onde se vende e troca. Onde a música elege o cantor. Onde a fome se detém numa barraca que arde de frigideiras e bifanas. Onde há barracas de potes de barro. Onde o vinho se bebe com os homens que se sentam a olhar as ancas das mulheres que passam nos seus decotes.

Já tive um amigo da feira.

Era uma mistura de feirante com a eloquência retórica que lhe servia de pertença onde pensar se exigia pouco. Juntando-se-lhe umas certezas o apregoado estava vendido. Assim se governava.

Já tive amigos de bairro e outros que o destino não me fez de fortuna. Não tive destino e a sorte sobrou nos amigos que me restaram.

Já me fiz amigo de um poeta.

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Recordação do caminho e mar

São dias encurralados nas semanas,
semanas presas aos meses,
anos acumulados de tempo diluído sem retorno.

É vida emprestada à saudade,
lágrimas entornadas à esperança,
erros acertados por tentativa,
vento por companhia e noites,
luar alienado das horas dos dias encurralados nas semanas.

O sangue pisado é:
- recordação do caminho e mar -

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Falas-me de um país do Minho

Falas-me de um país do Minho que me descreves verde e verdadeiro,

em boa verdade o é,

mas existirão outros verdes e verdadeiros com outras cores por ventura,

outros céus, outros mares,

feitos do mesmo céu, do mesmo mar, do mesmo chão,

e com um igual bando de idiotas a desgovernar,

as flores, os cheiros,

o Minho de que este país é feito,

das ilhas em equilíbrio no mar,

e de moinhos silvestres ao vento a gritar - Portugal -

 

Falas-me de tanto Minho,

de outras terras de planície e vinho,

e do mar a agradecer-nos por ser nosso de nação.

 

Esta terra não podia ser de França ou de outro lugar qualquer,

não lhe assentava,

não lhe caía bem.

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O par que dança, a pele que troca de cheiro por um beijo, a canção. 

Cantar no acerto dos acordes,
dos tempos menores crescendo para sétima,
a dominante das palavras que escolhem mulher na poesia,
do carinho que não tem a solidão,

a cantiga cresce,
sonha,
constrói um corpo,
esculpe os ombros,
as pernas,
a boca,
a alegria,
o sorriso,
e a canção está pronta para que se juntem os corpos e se dance no acerto dos passos.

O par que dança, a pele que troca de cheiro por um beijo, a canção.

 

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igualdades

Não temos todos direito a liberdades iguais, temos direito à igualdade de liberdade, são coisas diferentes, muito diferentes.

Liberdades iguais ou igualdade de liberdade.

Distorcida semantica educacional que desde a infância promove erros que mais tarde criam prisões sociais irrevogáveis. Fecham mentes.

O meu professor da primária tentou... valeu-me a (s) dissemelhância (s).

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