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Cardilium

Cardilium

Sei!

Sei,

pelo silêncio que me cala que a saudade é mais loucura do que saudade,

que a garganta cala o que a mente adormece,

e o horizonte reflecte as camélias que apodrecem fora da estação.

Sei,

que o silêncio é uma divisão fechada no meu peito.

 

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Bruno Candé

Já me custa ler, ouvir, saber que há quem argumente justificações para a morte de outro alguém, para a orfandade de três crianças que ficam sem pai por ser preto, porque não há outra razão nem nenhuma outra palavra que se ajuste a esta morte antecipada de ameaça por isso mesmo, a cor.

Dentro de mim corre uma incompreensão desalvorada que me fere, que me envergonha, que me faz não querer ser branco ou preto, que me faz não querer ser humano, que me faz não encontrar palavras que me destruam o desentendimento.

Envergonha-me tanta anónima sabedoria e responsáveis decisores. Envergonha-me deus, e tudo o que creio. Sinto-me envergonhado. Desculpem crianças.

Um abraço Bruno, o pano soltou-se antes do final da peça.  

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Mundo

À tua boca chamo mundo,

às tuas mãos barca,

ao teu sorriso viagem ,

aos teus cabelos vento,

às tuas palavras vida,

aos teus segredos ausência,

dentro de ti são as suaves pétalas de julho que me perfumam as noites 

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Pássaros d' aire

... e nas entranhas da serra o vento de repente parou para se ouvir a passarada ao pôr-do-sol, eram todos os pássaros de aire a despedirem-se do dia, o vento parou só para os ouvir.

Neste sobejo de dia resta o cheiro a seara cortada, e a doce água que descansa no ribeiro...

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Taacto 2020 e o sr rodrigues

Pérola do dia do convidado que escreveu o prefácio, gasto e batido.

"eu nao devia dizer isto, ou, eu não estava para dizer isto, mas disseram-me que os poetas nao prestam"

In António Rodrigues, universidade politica 

O Varela, que na verdade gostava de poesia, não merecia tamanha assobiadela à margem de apresentação dos poetas reunidos em torno dele, nem aproveitamentos politicos à custa do(s) sonho(s) que deixou, "agora peço desculpa mas vou ali dar uns beijos aos meus netos" 2º pérola ... por respeito á poesia,  e saiu como se o mundo fosse sua pertença agraciada.

Os poetas são de outra estripe, são de abraços e sangue a jorrar no sentir.  

Podia nem ter vindo, diminuiu, não acrescentou. 

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Não sei como não vês

Não sei como não vês que fico sem saber dar os passos que dou todo o dia quando te encontro e tropeço de pés bêbedos com as pernas sem forças a deixarem de reconhecer o caminho,

Não sei como não percebes que o meu “olá tudo bem” não quer dizer nada do que essas três palavras representam por norma e delas saem desregradas tentativas de dizer outras três mil palavras que não me ocorrem,

Não sei como não entendes que as minhas mãos ficam sem sítio onde se colocarem, sem espaço onde se abraçarem, sem dedos que sejam capazes de serem indicadores,

Não sei como atinges o desfalecimento do meu coração, e sorris em resposta com o um “olá tudo bem”.

Fazes de mim um inconsolado homem, estarrecido, sem ideias.  

Não sei como não vês …

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Não adormeço mais junto a este silêncio de mil anos

As folhas caem e encobrem o coração,

as nuvens soltam em direção à terra um perfume adocicado a astros e estrelas,

parece quase perfeita loucura que se solte um perfume a astros e estrelas caídos das nuvens e das folhas que encobrem o coração,

parece temeroso e alucinado o pensamento que acha que o coração não se semeia, rega ou colhe,

ou se entende que o luar é a solidão mensal da nossa ilusão,

as folhas caem e gesticulam homens imaturos quase náufragos da vida.

 

Não adormeço mais junto a este silêncio de mil anos.

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Ao Zêzere

Leve é a palavra que me ilumina que retiro do rio que se afoga na foz, que se dá na nascente, e sem cansaço que o detenha faz da serra mais apertada o seu caminho. Rio que dá vida à lagoa onde me banho e paisagem no serrado onde me descanso.

Assim fosse a minha alma tão largada de tudo, as minhas mãos benção do passado, o meu peito saudade e presente, que no futuro creio tanto como o rio que não sabe onde termina, que não sabe que o sal o deterá já gasto de todas as margens percorridas. 

Leve são as palavras que me saem na calma do zêzere que corre de madrugada em madrugada em mim. Desde sempre.

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Quando tiver tempo

Quando tiver tempo, verdadeiramente tempo para estar estarei. Por enquanto o tempo que gasto quando vos encontro a falar de vidas, sempre muito opinativos, com muitas soluções para a vida de outros alguéns quando a nossa é miseravelmente administrada, não me faz sentido gastá-lo.

Saber a resolução para as vidas todas e a minha não ser disso padrão, não me assiste o direito de ser participativo nesse colectivo demasiado grande para a minha pequenez exemplar, e grandiosa falta de exemplo associativo.  

Assim sendo, não gastarei o meu tempo em nada e ficarei na miserável companhia de mim mesmo, mas evitarei o desgaste de me sentir miserável em grupo, é o meu contributo para a diminuição da miséria colectiva em consciência individual.

Quando tiver tempo, se voltar a ter verdadeiramente tempo voltarei, sem por-do-sol e gratidão a abençoar-vos em indigente necessidade.

Voltarei sempre com a verdade das noites dentro.

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