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Cardilium

Cardilium

o mar por aqui plantado

Se o mar tivesse sido plantado nesta avenida florida de violeta e silêncio, nalguns sábados invernosos seria verão de gente, as esquinas não seriam esquinas e as ondas mansamente com as estrelas, contariam estórias de lua cheia à pequenada solta por ali.

Se o mar tivesse sido por aqui plantado...

 

Contra-mão do acerto

Não há maior amarra que a ignorância, não há maior amarra que fazer alguém acreditar que a história não é história e que o passado é muito distante.

Não há maior amarra que fazer crer que o pecado tem punição, a noite não tem caminho, e que os lábios cerrados são mais livres do que o coração.

Não há maior amarra que desentender o amor, desentender que a amizade é o alicerce da alma e que qualquer desconvite é soltar ferro de um porto e partir, é navegar em jardins de rosas e sol largados à noite.

Não há amarras em quem não tem medo de arriscar e, entende os tempos de prisioneiro na contra-mão do acerto.

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Jorge Palma (s)

leves são todas as sublimes manhãs,
poços frescos verdejantes e luz.

em teoria,
a felicidade é todo este imenso querer,
toda esta terra esperada,
estes bandos soltos de passarada em chilreio,
e a recordada criançada do bairro velho,

leves e suaves são todas estas cores de pele,
todas estes tons de olhar,
sem esperança que a diferença seja aceite,
que ela por si só já o é,
é somente preciso gostar,
e pode ser homens com homens,
mulheres com homens,
homens com mulheres
ou mulheres com mulheres que isso não faz a diferença,

que sejam leves todas as madrugadas,
suaves todos os olhares,
que o bairro do amor,
é pintado a lápis de cor e liberdade.

 

Jorge Palma

Jorge_Palma.jpg

 

Setenta reais anos.

Obrigado Jorge Palma por todos os bocados que juntos com as tuas palavras e acordes fizeste em mim prazer, ajustamento e vida.

Obrigado por me mostrares que a dependência é uma besta que dá cabo do desejo, e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo.

Obrigado por me fazeres crer em mãos de bailarina, lábios de silêncio e trinta mil cavalos a galopar num peito.

Saúde Jorge.

As palavras e o desígnio delas em si mesmo, são a última liberdade que possuo.

A limitação do entendimento das palavras, das ideias enriquecidas da criação, transforma o mundo de cada um de nós.

A força que destrói é igual à que constrói. Posso escrever dizendo que:

- O vento trouxe em porções bocados de ti -

Em mim, isso significa o meu passado. Em ti significa uma partida. Noutro alguém significará a reconstrução de um mundo novo. Ainda noutro alguém será uma parte do tormento que se foi.  Noutro alguém qualquer, será meramente a possibilidade de a liberdade poder ser.

Foi sempre o fascínio das palavras simples em argumentativas histórias e sonhos, a aventura de poder transformar o que leio no meu porto seguro, na fantasia de poder chamar amor à amizade, abraçar quem escolho abraçar, sem rebuscadas manifestações de interesse ou equívoco, porque tudo nas palavras são: - acertada independência - e em tudo o que nelas construo é apropriada emancipação.

As palavras e o desígnio delas em si mesmo, são a última liberdade que possuo.

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