Se o mar tivesse sido plantado nesta avenida florida de violeta e silêncio, nalguns sábados invernosos seria verão de gente, as esquinas não seriam esquinas e as ondas mansamente com as estrelas, contariam estórias de lua cheia à pequenada solta por ali.
Não há maior amarra que a ignorância, não há maior amarra que fazer alguém acreditar que a história não é história e que o passado é muito distante.
Não há maior amarra que fazer crer que o pecado tem punição, a noite não tem caminho, e que os lábios cerrados são mais livres do que o coração.
Não há maior amarra que desentender o amor, desentender que a amizade é o alicerce da alma e que qualquer desconvite é soltar ferro de um porto e partir, é navegar em jardins de rosas e sol largados à noite.
Não há amarras em quem não tem medo de arriscar e, entende os tempos de prisioneiro na contra-mão do acerto.
leves são todas as sublimes manhãs, poços frescos verdejantes e luz.
em teoria, a felicidade é todo este imenso querer, toda esta terra esperada, estes bandos soltos de passarada em chilreio, e a recordada criançada do bairro velho,
leves e suaves são todas estas cores de pele, todas estes tons de olhar, sem esperança que a diferença seja aceite, que ela por si só já o é, é somente preciso gostar, e pode ser homens com homens, mulheres com homens, homens com mulheres ou mulheres com mulheres que isso não faz a diferença,
que sejam leves todas as madrugadas, suaves todos os olhares, que o bairro do amor, é pintado a lápis de cor e liberdade.
A limitação do entendimento das palavras, das ideias enriquecidas da criação, transforma o mundo de cada um de nós.
A força que destrói é igual à que constrói. Posso escrever dizendo que:
- O vento trouxe em porções bocados de ti -
Em mim, isso significa o meu passado. Em ti significa uma partida. Noutro alguém significará a reconstrução de um mundo novo. Ainda noutro alguém será uma parte do tormento que se foi. Noutro alguém qualquer, será meramente a possibilidade de a liberdade poder ser.
Foi sempre o fascínio das palavras simples em argumentativas histórias e sonhos, a aventura de poder transformar o que leio no meu porto seguro, na fantasia de poder chamar amor à amizade, abraçar quem escolho abraçar, sem rebuscadas manifestações de interesse ou equívoco, porque tudo nas palavras são: - acertada independência - e em tudo o que nelas construo é apropriada emancipação.
As palavras e o desígnio delas em si mesmo, são a última liberdade que possuo.