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Cardilium

Cardilium

pensamento em formula divinizada.

Mas eu sou ateu não tenho fé. Nem precisas de ter, aqui, enfiamos-te a verdade pelos olhos adentro.

Saí ainda mais descrente da formula conveniente da fé, confirmando que a quaresma nada tem a ver com o medo, que a divina providência nada tem a ver com a tempestade, que o castigo e a justiça divina são como os livros do major alvega que se desenham e inventam.

Não me entra pelos olhos adentro nem a verdade, nem a cegueira do pensamento em formula divinizada.

extracto de um conto por ver a luz do dia um dia

Reparaste em como o tempo se fez mais velho do que nós, ficou escuro, enrugado, cinzento quase sem esperança, e nós aqui à espera que a manhã não seja portadora de leite e torradas, preferimos que as gaivotas nos brindem com os voos picados sobre as ondas, e o sol nos apanhe de costas para o mar.

Reparaste?
Reparaste que é o tempo que se faz velho. E nós por cá.

 

As amarras foram em mim: - poesia adoentada -

Todos os medos têm o teu nome,

Todos os sorrisos têm o cheiro do teu cabelo,

 

Todas as moedas que em jeito de sétima doei,

Foram como a sopa dos pobres que pode ser azeda,

Que boca de pobre tem sabor a mulher adultera e assinalada,

 

A cegueira que me acompanhou o medo foi libertação,

Quando juntei os bocados de miséria com a minha ressurreição,

 

Fiz de deus a redução de ajustamento à sua plena verdade,

As amarras foram em mim: - poesia adoentada -

Peste

enquanto a peste protesta silenciosamente contra a escória governamental, o comum depositante dos votos confia no que ontem desconfiava, o medo atraiçoa sempre a razão.

Sopra o vento

Às vorazes criaturas do assombro que me presenteiam com esforçados discursos acerca de mudança, acerca da mudança, em organizações de indole social e promessas promissoras de um culto que todos juntos construiremos a quimera do sonho azul, anulem por favor o meu endereço e contacto que o meu vil fígado desembargou no porto dos náufragos, dos errantes e titubeantes seres imperfeitos, incultos da sabedoria massificada.

A minha oração são três redondos vocábulos e uma sina assassinada da normalizada lei humana.

A minha liberdade não é ou será colectiva, será una, coerciva e demagoga para outro entendimento que não o meu.

Assim me passeio acompanhado desta solidão de companhia na minha nova morada não fiscal.

Sopra o vento mais do que o vento.

Janela

Ainda hoje me debruço na janela a acreditar que por lá passarás, mas não, não mais passaste. Há já muito tempo que não passas.

Enquanto isso, invento amores,

invento saudade,

invento no tempo presente do verbo inventar.

Adormeço com dois sóis.

O da tarde, e o que espreito debruçado na janela por onde já não passas, mas, eu teimo em inventar o teu passar.

dança das mãos

mãos em dança na luminosa madrugada,
dedos que se erguem e lutam pelo destino,

o rio num estreito fio de água escolhe na foz o descanso,
o mar suplica a voz que se silencia,

do outro lado o mesmo mar faz outra praia,
e a outra praia é feita do mesmo mar,

faz frio que não tem corpo,
e no meu corpo sinto mais do que o frio e o mar.

espero,
aguardo, oiço,

sei que o tempo serão pequenos pedaços que juntos,
incorporam e decidem a luz que decide esta espera.

mãos em dança na luminosa madrugada,
dedos que se erguem e lutam pelo destino,

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