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Cardilium

Cardilium

Amofina

A miséria nas tuas mãos,
O corpo gasto,
As derradeiras palavras e o pranto,
Todo o jardim entristecido,
O sol que não brilhou,
A lua agasalhada com nevoeiro,
A morte,
As despedidas à despedida,
As dedos trémulos e o frio,
O fim e o adeus.

Num canto do pátio o teu cão com os olhos baços e a tristeza dura da distância pressentida, amofina.

Sempre inesperadamente

Melhores dias virão: - disseste-me -

Sim, é verdade. Os melhores dias são os que ainda estão por descobrir, que por serem novos e virgens, tudo têm para serem os mais longos, bonitos, frios e difíceis, e são-no porque ainda não desaguaram no céu, não viram as nuvens que os vão apresentar, ainda não são sequer dias, ainda não são ao menos nascidos. São os melhores e os piores por isso mesmo, por não existirem.

A mim não me importa se são bons, importa-me por serem os dias que me vão acompanhar, mas quero que com eles se me exibam os mais belos raiares de mim mesmo, e a mais bela poesia jorre das mãos que irão segurar as minhas.

Os mais belos dias, são as mais sublimes e desconhecidas horas que me soltam e apertam o peito, inesperadamente.

Sempre inesperadamente.

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