Entre
Entre os invernos desaconchegados e os verões transpirados de gente,
mesmo sem ninguém que fosse gente,
ou pessoas que fossem alguém,
sobrevivo entre cada escombro onde me alento e sustento.
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Entre os invernos desaconchegados e os verões transpirados de gente,
mesmo sem ninguém que fosse gente,
ou pessoas que fossem alguém,
sobrevivo entre cada escombro onde me alento e sustento.
A falta dos teus passos são a minha falta de vida.
A rua por onde passavas entristeceu e a que deixavas quando entravas na que subia o empedrado destino, já não fica a espreitar-te até desapareceres tarde dentro entardecida.
Já não voltas aquela rua sombria entre casas que durante mais do que uma vida alegraste com a tua frequência. Já não cheira à lavanda que a tua pele renovava.
Agora, sobram os pedidos que as sombras que se veem a romper a aurora, sejam tu a habitar outra vez a vida, mas não tens comparecido, não tens vindo encher-nos de elegantes passos e rubor na face ao teu passar.
Não tens vindo por aqui passear-te, estrela.
Não me detenhas a ténue tentativa de me desobrigar ao que para ti é obrigação, nasci de um outro deus que não o teu, é um deus miserável que não crê em outra coisa que não seja amor. É um deus que não troca promessa por fé, nem milagre por multidão.
O meu deus é secreto e selvagem e não confere obrigação.
este céu empedernido de loucura,
distante,
misturado com nuvens que se soltam em pedaços perfumados de primavera,
é a vã tentativa de acalorar este frio que me transforma a vontade em estagnada saudade,
incapaz de ter outro sentido que não seja,
encontrar-me perdido entre outros desaparecidos,
a quem o céu igualmente parece longe e empedernido.
Não há quartos de hotel para homens solitários, há um espaço confinado ao cansaço que torna o cansaço ainda mais cansaço.
Antes um banco de jardim em noite de verão com a lua a passear-se no céu, as flores adormecidas no seu perfume, e as horas a cantarolar com a madrugada.
Incendeiem-se todos os quartos de hotel para homens sós e deitem-se as cinzas na miséria das noites não dormidas
... ainda guardo o teu cheiro nos dedos das minhas mãos dadas nas tuas, foi o meu último domingo a seguir à saudade ...
Tornam-se as tardes, esperas demoradas do teu sorriso.