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Cardilium

Cardilium

Entre

Entre os invernos desaconchegados e os verões transpirados de gente,

mesmo sem ninguém que fosse gente,

ou pessoas que fossem alguém,

sobrevivo entre cada escombro onde me alento e sustento.

Não tens vindo por aqui passear-te, estrela

A falta dos teus passos são a minha falta de vida.

A rua por onde passavas entristeceu e a que deixavas quando entravas na que subia o empedrado destino, já não fica a espreitar-te até desapareceres tarde dentro entardecida.

Já não voltas aquela rua sombria entre casas que durante mais do que uma vida alegraste com a tua frequência. Já não cheira à lavanda que a tua pele renovava.

Agora, sobram os pedidos que as sombras que se veem a romper a aurora, sejam tu a habitar outra vez a vida, mas não tens comparecido, não tens vindo encher-nos de elegantes passos e rubor na face ao teu passar.

 

Não tens vindo por aqui passear-te, estrela.

O meu deus é secreto e selvagem e não confere obrigação

Não me detenhas a ténue tentativa de me desobrigar ao que para ti é obrigação, nasci de um outro deus que não o teu, é um deus miserável que não crê em outra coisa que não seja amor. É um deus que não troca promessa por fé, nem milagre por multidão.

O meu deus é secreto e selvagem e não confere obrigação.  

céu empedernido de loucura

este céu empedernido de loucura,

distante,

misturado com nuvens que se soltam em pedaços perfumados de primavera,

é a vã tentativa de acalorar este frio que me transforma a vontade em estagnada saudade,

incapaz de ter outro sentido que não seja,

encontrar-me perdido entre outros desaparecidos,

a quem o céu igualmente parece longe e empedernido.  

Não há quartos de hotel para homens solitários

Não há quartos de hotel para homens solitários, há um espaço confinado ao cansaço que torna o cansaço ainda mais cansaço.

Antes um banco de jardim em noite de verão com a lua a passear-se no céu, as flores adormecidas no seu perfume, e as horas a cantarolar com a madrugada.

Incendeiem-se todos os quartos de hotel para homens sós e deitem-se as cinzas na miséria das noites não dormidas

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