A decência de eu ser, a uniformidade de ser eu, neste mar acrescentado de terra que é o meu país.
O meu país é pouca gente, somos dois ou três a quem eu bato à porta de madrugada, quando a madrugada me sangra no pensamento, num rodopio escanzelado e cruel que quase me faz descrer na minha decência de eu ser, na uniformidade de ser eu.
As minhas palavras tendem à normalidade para me sentir menos só, o entendimento do que sinto é invulgar e, muitos dias os há, em que sozinho me sinto menos só.
e, escolhe-se assim quem se quer vivo, quem se quer não vivo, ou quem se quer morto, porque egoisticamente se gosta tão pouco de quem se é, que se sabe que ninguém mais gostará de um mentecapto, egoísta, controlador, sem caracter ou essência que se ajuste a um outro ser. Então, dispara-se um tiro, lava-se as mãos, e entrega-se à justiça que pune nos tais 25 anos a tal disfunção cognitiva / emocional, sabendo-se que na realidade são 15 anos esse delito de escolher a morte de uma outra pessoa.
Como na generalidade a isenção de culpa, o não sentir culpa é uma característica da bipolaridade homicida, e que a dita culpa não invade o sono desses seres energúmenos, está desenhado o perfil auto-justificativo de tal facto.
- Ah provoca-me andando com outro.
- Tanto que eu fiz por ela.
- Ela não reconhece o meu amor.
- Não sei viver sem ela.
Sim claro, tudo boas justificações para devolver um corpo à terra. Estás perdoado seu animal.
Na verdade, há 18 horas que não consigo eu, não me envergonhar pela raça humana, e esquecer a imagem morta de uma mulher no chão, e de todos os comentários alguns em forma de “talvez ele tenha uma pontinha de razão” que me entristece, e, não deixa o meu dia ser o meu dia.
Choro por dentro sem conseguir calar este pranto. Sei que amanhã é outro dia e isto tudo voltará à normalidade. Mas aquele pedaço de terra, não o pisarei jamais, em memória ao 18 fev de 2019, de uma mulher que eu nem conhecia, a não ser de “vista” como se ousa dizer.
Paz à sua alma, seja lá isso o que for, da boca de um ateu.
Quero falar-te de uma forma simples de toda a intensidade que me habita. A simplicidade é a mais complexa forma de amar. É um todo que me ocupa, me invade, me arrebata. É como se as estações deixassem de existir, e deixasse de ser importante se: neva, chove, está frio ou calor. É como se os dias não fossem dias, e as noites não fossem noites. Vivo na quietude avassaladora de aguardar o próximo encontro dos nossos abraços, dos nossos beijos, das nossas gargalhadas, das nossas canções, do nosso amor. Esta é, a forma mais simples que encontrei para falar-te hoje da complexidade do meu amor.
Ás 22h num canal qualquer em sua casa, na sua sala, em frente ao seu sofá, tudo sobre a miséria, anunciado em horário nobre dentro de si, horário nobre da sua vida.