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Cardilium

Cardilium

Boas realizações, resoluções de novo ano, e as minhas decisões a 31 Dezembro de todos os anos

A melhor forma de não me enraivecer com as datas em que dizemos estas barbaras palavras acerca de realizações, resoluções ou as minhas decisões são: - é o silêncio -.

 

O silêncio impede-me de dizer três dúzias de obscenidades vernáculas acerca do tema, que mais tarde me viria a arrepender e, a continuar tudo na mesma. O silêncio nem tem muito a ver com arrependimento, porque não me importava nada de me arrepender se isso mudasse alguma coisa, mas como não muda nada, só perco tempo, arrependo-me e, nada muda.

 

O pior. Esta maldita época de resoluções, realizações e decisões, tem o condão de ser epidémica, viral e catártica. Ainda pior do que pior, pega-se a pessoas que amo, e parece-me que as palavras que dizem e as letras que escrevem me soam a desconhecido. Horrível.

 

Realizações? mesmo as de cariz sexual, não são coisas que me entrem, e eu que gosto tanto de amor aos rebolões. 

 

A distância da proximidade ou a proximidade da distância?

“… sim, disse eu sem me afastar do livro que tinha entre dedos e da Joan Baez que se ouvia roufenha em fundo da sala.

 

Mantenho uma próxima distância que me defende do que me separa afinal de toda a gente, e o que separa toda agente igualmente de mim.

 

Gerir distâncias e proximidades é um exercício que mais de cinquenta anos de vida me instruiu ser o mais sensato, para as diferenças que mantenho de mim mesmo. Como posso eu comprometer-me com viagens, jantares, relacionamentos com mais do que horas de pré acordada data e hora, se nem eu mesmo sei, se quero ou me apetece, proximidade ou distância.

 

Está em parte explicado a ausência de proximidades na minha vida.

Está assim explicado em parte também, a presença da distância da proximidade na minha vida.

Parece complicado, dúbio e demente, mas eu entendo-me muito bem.

 

A distância da proximidade ou a proximidade da distância?

É isto …”

terra semente

Ana,

Aninhas,

no seu olhar cabe todo o carinho do mundo,

o seu corpo terra e semente agregado de amor latente,

os seus lábios,

vento e abraço constante,

esquiva e celestial,

toda inteira num diminutivo que nada diminui,

toda inteira numa pequenez que acrescenta e engrandece,

menina mulher feita de alegria.  

 

Toda e inteira.

Aninhas feita de Ana.

escolhas II

“… não é o caminho que escolho percorrer o que calcorreio. São mais as vezes que o caminho me escolhe a mim.  Como na vida, sou mais escolhido do que escolho, até porque as escolhas não são o meu forte, pelo menos as boas escolhas, em geral, ou geralmente, não as faço boas, mas refaço-as a cada vez que me reformulo e questiono se são as noites que escolho, a vida e o caminho que me percorre …”

A confortabilidade, o preconceito e a dissemelhança

A confortabilidade, o preconceito e a dissemelhança.

 

Tenho pensado, equacionada, dissertado, “introspectado”, analisado, verificado, observado, ficcionado etc, acerca desta coisa de me sentir confortável acerca do preconceito, mais propriamente quando estou no “meio dele” e a dissemelhança verosímil do mesmo.

 

Exemplo:

Não tenho nenhum tipo de preconceito homofóbico, de género, escolha sexual, religião, racial etc, no entanto eu, e outros que observo e verifico com atenção, de tanto querer (mos) ser (mos) aberto (s) de espirito e mente, quase tenho / temos tiques e, passo / passamos a ser uma coisa que não sou / somos, estou / estamos a ser preconceituoso (s) com o exagero de querer / querermos ser solidário (s) com uma dissemelhança que não precisa de solidariedade nenhuma, devido á normalidade da diferença. Não há nenhuma anormalidade em ser díspar.

 

Na verdade, esta coisa resolve-se de uma forma simples. Gosto de pessoas, só isso. Não tenho os mesmos comportamentos, não tem mal nenhum. Parece-me, pelo que observo, que exagerar na solidariedade é uma agressão para as pessoas, que elas o percepcionam, que fico/ ficamos ridículos, e que na verdade as pessoas só precisam de pessoas que abracem, que os comportamentos diferentes são aceites desde que, amemos as pessoas, parece uma pseudoteoria simples, mas de difícil aplicação.

 

Outro exemplo:

Abomino as touradas, que maltratem animais, mas abomino o partido - PAN, Pessoas, Animais e Natureza -  também. Antipatizo pelo ridículo das suas posições, aproveitamento politico, desonestidade intelectual, pelas politicas sociais dissemelhantes das minhas etc. Pelos direitos dos animais até lá vou, mas pelos direitos sociais, geração e distribuição da riqueza produzida etc, estou para o PAN, como o Hitler para o Karl Marx.

 

E é isto. Basta-me gostar de pessoas. Podemos na boa, ter comportamentos, gostos e prazeres diferentes, sem o preconceito de querer ser igual ao que não sou.

 

Tento escrever isto na primeira pessoa para não ser preconceituoso, mas na verdade, vejo muito disto por aí, nos jornais, nas rádios, nas televisões, nas redes sociais, nos cafés, esplanadas, artigos de opinião, conversas de amigos etc.

 

Vejo muito disto pelo mundo fora.

abraço

o infeliz disfarce

quando te dou as minhas mãos, os meus dedos, o meu peito todo, o meu sorriso, o meu acordar,

devolves-me a certeza de ser mais alma este frondoso embalo de desejo e saudade,

que meras presenças ensaiadas, que teimam em ser o infeliz disfarce com que me adorno de vida.  

pedaço colectivo e despertencente

" ... sem que o olfacto de toda aquela multidão me encantasse, lá ia eu resistindo na esperança que as bandeiras ganhassem a liberdade do delírio de quem governa os destinos desta massa ordeira, até me parece a mim próprio que não lhe pertenço, tal é a cegueira colectiva deste povo, nesta época de engano desenganado pela vida, e lá me associava eu, dia após dia, aquela marcha cada vez menos colectiva da liberdade, aquele pedaço de mim comunitário e despertencente ..."  

Inexistente

Querer inexistir faz-me estar onde não sou, conversar com palavras em desuso, palavras em que não creio por mais do que um mero beijo.

 

Inexistir, faz-me ser noite solidão em multidão gentia.

 

Inexistir, faz-me esconder as palavras que me ferem.

 

Inexistir, faz-me sentir despertencente nos sítios onde escolho pertencer em bocados de tempo, com mais de mil desculpas desacreditadas de mim mesmo.

 

Inexistir, mata-me mansamente a esperança, fico menos vivo e mais solitário, do que se sozinho me encontrasse abastando-me.  

 

Inexistir, faz-me até esquecer que a música me veste a alma e, quase me deixo prostituir por acordes de poemas inexistentes, em mim homem - dilacerado e ausente -.

 

Inexistir, faz-me sentir uma puta, que às putas eu tenho o maior respeito, porque são, porque existem.

 

O que sinto de mim, é não ser, tal como as que fingem ser.  Inexistentes.

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