" ...a simbiose entre o que penso ser o conhecimento, altera-se quando admito quão ingnorante sou, e que afinal a natureza humana quase se torna incompreensivel em pouco mais do que dias, medidos por atitudes às horas e comportamentos aos minutos.
A simbiose doce, azeda. A paixão e a metamorfose irão juntas no mesmo caixão. Sobram os hinos e o sal que adoça a solidão.
Não pretendo celebrar a época de desajuste social, mormente este equinócio entre a lembrança de que a paz é necessária, que há crianças desnutridas, mulheres violentadas, regimes ditatoriais, e a cegueira de todos os meses menos o último.
Por mim, podem apagar todas as luzes.
Tamanha desorganização emocional, torna as minhas noites ainda mais inquietas.
Não celebro. Não me excito. Não rezo. Nao me prostituo por quinze dias, a prostituir-me seria para a vida toda, que eu gosto de prazer sem ser a prazo.
" ... Sim Val de Mar, entendo melhor um pobre fazer-se de rico, que um rico se fazer de pobre. Um, pelo sonho, conseguirá aproximar-se do que é ter esperança. O outro, jamais saberá o que é o pesadelo de não poder dar sonhos aos seus filhos. Um rico a fazer-se de pobre é cruel e vil. O pobre a fazer-se de rico, é sonhar. Sendo isso da riqueza aquilo que for, valendo aquilo que vale. Amor por si só, já é riqueza maior ..."
Levo a minha alma em passeio pelos campos agitados como o mar, que vibra com os ventos que se debruçam sobre a terra e o arco-íris, após a chuva inesperada e fria.
Solto os meus pensamentos. Pensamentos que nunca ninguém ouviu em palavras ditas. Nem eu próprio.
São os meus pensamentos que me pensam a mim, sem palavras possíveis que me pensem. As palavras que me pensam, não existem.
Levo só a minha alma pelos campos afora, em higiénico passeadouro dos meus próprios pareceres. Sem palavras, sem pensamentos conjugados.
Primeiro, o nevoeiro embrulha a madrugada aconchegado na terra, sempre cedo, sempre muito cedo, antes mesmo da alvorada ser alvorada por inteiro.
Depois, lentamente, o sol conquista a manhã, todos os dias são nos meus olhos dias amanhecidos por sol e nevoeiro, e, em todo o meu peito, enquanto a noite se desmorona, os meus olhos têm vagas de mar desaguadas na foz do rio que abraça a praia onde entardeço a saudade que não parte de mim.
Todos os dias, sempre e todos os dias, nos meus dias.
Quando um dia me descreveres como mais do que um fogo de ternura, e a tua pele se arrepiar de pensares nas mil vezes que te implorei amor, saberás que desde sempre, desde nunca, desde o primeiro minuto, desde a primeira vez, mudei de alma, troquei de ser, e fiz do lago defronte à minha casa o teu espelho, esperando todos os dias voltar a sentir-te minha.
Voltei a ver-te fugidia ao som de uma valsa que nem sei dançar, não adorei ver-te nos braços de quem nem sei existir, mas soube-me a felicidade ver-te, de saia redonda, mãos elegantes, sapatos pretos, vestido branco, em afrontosa e dedicada dança, presença de vida em tarde esquecida.
Quando um dia me descreveres sem possível descrição, apenas serei eu a recordação, tudo o mais, não foi se não eu, a minha velha sala de chão de madeira esburacado, a janela de vidro quebrado onde entra o sol e o frio, e o lago quebrado que foi o espelho fracturado, tudo o mais, é somente palavras que junto com o cheiro a pele amada.
Os corpos erguem-se de jardins que florescem, sem que a primavera ainda tenha rompido o inverno. Os corpos pedem corpos por companhia. Pedem ternos embalares para se esquecerem dos amores mortos em guerras sangrentas, a que nós do lado de fora dos corpos chamamos amor, como se amar fosse composto por desacatos de alma e searas por semear.