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Cardilium

Cardilium

trovoada de ternura

A antecipação dos vazios é-me oferecida pela experiência. 

Aprendi o destino, 

Reflorestei o meu deserto, plantei lírios.

A mágoa já não me sabe, é indolor, inodora e incolor, é loucura e frenesim.

 

Revisitar-me é:

- ter-me em distintas partes iguais.

- saber-me a lágrimas por rebentar.

- entender as trovoadas incontornáveis da ternura.

1993

Esperança trazida no ventre do vento,

Fogo queimado,

Lua incerta,

Aurora de outrora esbatida,

Cinzento mar sacrossanto,

Ruas reles povoadas,

Madrugadas de anos duradouras,

Loucos sorrisos exaltação,

Decotes desabotoados,

Música dentro de muros

Já desfeitos inexistentes,

Cores de luzes desmaiadas.

 

Bairros onde me esbanjei,

Calçadas onde me deitei,

Manhãs acordadas de perdas,

Pontapeados de bons dias,

Identificação pedida perdida,

Fotos de olheiras arquivadas,

Copos de Jim Morrison ébrio,

Fantasia psicadélica The Cure,

Sonhos de paisagem Neil Young,

Verdades de Bob Dylan,

Sobriedade não é a minha sanidade

Sempre vivi no limite de me fartar do excesso,

Sempre adormeci cansado,

Não descansar de ser, de ouvir, de ler, de cantar, de tocar, de amar este desamor a mim,

Retorna-me sempre este círculo, esta espiral, este ponto de partida não evolutivo,

Cansa-me a falta de descanso,

Sobriedade não é a minha sanidade.

Estou maravilhado e assustado! (extracto de palavras por ver a luz do sol um dia)

Desenhas e encantas a serra nos mais recônditos recantos. Semeias sonhos. A serra cheira a estórias e adormece de encantos. Pares um filho inventado. O sol adormece e treme com o breve encantamento de um gesto escondido. As ervas crescem numa púcara fervida como remédio. A serra deita-se com o mar e o nevoeiro com o arco-íris. A serra expressa-se num breve sussurro. Os caminhos estão apaixonados pelo regresso. Os deuses tudo permitem.

 

Sabes de alguma coisa de regressos atempados?

- Sei, sei de uma estória em que o mar foi visitar a serra.

 

E pode alguém ser quem, não é? Pode alguém dissimular não ser ou existir? Pode alguém tornar-se noutro alguém, nem que seja por um instante?

- Pode, a esperança hipoteca a fé e o dissimulado veste-se de certezas.

 

E o medo? E o medo?

- O medo é preciso.

 

O medo faz parte do mistério?

- Faz. O medo é a antítese da fé.

 

E o que é que comanda a vida? É o mistério? O medo precisa da fé?

- Adoro o mistério obsoleto do óbvio.

- Adoro o mistério dos deuses e dos acasos.

 

O óbvio joga ao carnaval com o medo.

A fé joga às escondidas com as reservas.

O conhecimento promove o caos e a ignorância.

 

Sei tão pouco de tanto, sei nada de tudo, não sei nada de coisa nenhuma,

Não sei.

 

Ah!

Mas estou maravilhado e assustado!

 

Exuperyano e nocturno

Parece-me chegar o mar aos dedos. O sol faz o seu percurso raso com a vegetação. Esconde-se na hora marcada. Na hora combinada. As gaivotas deitam-se num voo circundante. Exuperyano. Nocturno. Na praia os resistentes teimam em resistir.

 

Sento-me no telhado por detrás do farol. A varanda abaulada cheira a livros. O crepúsculo cai em decadência. O som é difuso. O mar soa diferente se de encontro à rocha, se de encontro ao mar. Um velho poema é declamado em surdina. Beijo e passeio-me nos teus lábios de seda. O cheiro da noite habita a minha pele. As palavras encolhem a minha solidão.

 

A verdade divergente da verdade dos homens é o meu mundo. Uso mais do que cinco sentidos. Fecho-me aos que me impedem de sonhar pois aprendo o que não sei quando sonho. Estar por estar, não estou. Ser por ser, não sou.

 

A estrada, agora prateada pela lua, junta-me às estrelas.

bem vinda

disse:

- chego a ter pena de ti. Por mim, não quero ter pena de toda essa sapiência da desgraça manupulada. Não quero. Já não quero mais -

Veio-me o perfume a rosas fora de maio, era dezembro. Adormeci.

A rapariga antipática que afinal não era antipática

A rapariga antipática que afinal não era antipática.

 

Não era simpática porque não sorria,

porque não ficava sem jeito,

porque sentia,

porque andava de braço dado com a vida,

porque cantava,

porque dançava,

porque escrevia até poesia,

 

então,

não era simpática porque eu não sabia,

e agora é simpática porque eu sei.

 

Não era a antipatia dela afinal,

foi sempre a minha ignorância que foi lei.

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