Já não sinto despedaço algum, nem revejo qualquer abstemia vontade de emendar a fala, não há moralidade sem exemplo, muito menos exemplo desaguado de miséria, continuo a enganar-me de equívoco completo, que nalguns dias achei tão imperfeito, que pensei ser o engano que estava certo.
Não há forma de pensar o amor. De representar o amor. De maltratar o amor. De cuidar do amor. De entender o amor. De plagiar o amor. De inventar o amor. De idealizar o amor. De “terapia_zar” o amor. De “psiquiatra_r” o amor. De matar ou ressuscitar o amor. Não existe nada a fazer com o amor.
Não há forma de pensar o amor – seria retirar a espontaneidade e a loucura que o faz tão impensado, irracional, desejado e desentendível.
Não há forma de representar o amor – não há forma, texto, improvisação, criatividade, teatralidade, seria estar refém da possibilidade de apresentar um sentir que nos faz refém de nós próprios. É a demonstração da nossa pequenez.
Não há forma de maltratar o amor – quando a tentativa se faz, já o amor se esquivou e deixou tudo o que os amores não sustêm, o desconhecimento do próprio amor.
Não há forma de cuidar do amor – impossível, trata-se a ele próprio.
Não há forma de entender o amor – seria retirar-lhe vida na perda de tempo do seu entendimento. O amor não é para ser entendido.
Não há forma de plagiar o amor – todo é diferente do anterior, do próximo, irrepetível, diferente de todos os outros amores, de todas as pessoas do mundo.
Não há forma de inventar o amor – não se inventam furacões, tempestades, terramotos, tsunamis e - amor-
Não há forma de idealizar o amor – o amor de tanto imaginar só se pode abraçar ao amor.
Não há forma de “terapia_zar” o amor - não há terapia que possa deixar com que o amor se relativize no amor, divã que possa suster ou acelerar o amor, o amor não tem terapia ou formas terapêuticas que sejam amor.
Não há forma de “psiquiatra_r” o amor – o amor não se provoca com remédios ou desenvolvimentos mentais de redução do amor, é tão livre que só é bom se: - se apiedar -
Não há forma de matar ou ressuscitar o amor – o amor tem vida própria. Nasce sem descuido, morre com cuidado.
Os dias em que não vejo a linha do horizonte são mais entristecidos, por outro lado são negligenciados pelo transito, as pessoas de mil cores, as cores das pessoas de mil cores, os jardins tateados de crianças ausentes de brincadeiras, os pombos, o barulho da cidade, as labaredas da avenida que sobe, e o passeio de bancos que desce.
Na minha terra há horizonte e céu em vez de prédios, há jardins que se criam e cuidam, crianças com bolas e esconderijos dos clãs. Há cores que são das pessoas e cheiro a trabalho por acabar. Há desejo quente a arder no peito pelas mulheres da outra terra. Há mães. Há pais. Há avós. Há silêncio. E o tempo nada tem a ver com o tempo da cidade. É um tempo esculpido e desenhado em terra fértil
… não escondo o que faço com toda esta pobreza , na praça a norte da cidade, entrego-me a uma mulher que é ainda mais solidão do que eu, não acrescentamos presença, os dois, potenciamos solidão, é matemática pura, este quadrado que fazemos do que somos …
“… sabes, os dias em que não vejo a linha do horizonte são mais entristecidos, por outro lado são negligenciados pelo transito, as pessoas de mil cores, as cores das pessoas de mil cores, os jardins tateados de crianças ausentes de brincadeiras, os pombos, o barulho da cidade, as labaredas da avenida que sobe, e o passeio de bancos que desce.
Na minha terra há horizonte e céu em vez de prédios, há jardins que se criam e cuidam, crianças com bolas, esconderijos e clãs.
Há cores que são das pessoas e cheiro a trabalho por acabar.
Há desejo quente a arder no peito pelas mulheres da outra terra.
Há mães. Há pais. Há avós. Há silêncio.
O tempo, não o tempo igual ao da cidade. O tempo aqui é esculpido e desenhado em terra fértil e, as papoilas, escolhem as mãos de quem as cuida.
Não há empresas que prestam serviços, essa modernidade de receber, para se cuidar do amor. Sabes, aqui há de existir….”
“… sabes continuei eu, não me parece que hajam seres estúpidos. Há sim seres que acumulam deficiências de observação acerca da boa convivência humana, e não demonstram esse défice hoje e amanha não, são-no tão plenamente, que me parece um traço de personalidade, mas não o é, sou eu a observar mal a cadência certa das atitudes e opiniões. Não é pré-conceito meu, é pura e genuína observação …