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Cardilium

Cardilium

Impossível primavera

“… a primavera não é mais bonita que outra qualquer estação, nem mais feia, nem mais perfumada, nem mais iluminada pela lua. A primavera é quando o tempo me começa a escassear no prolongamento dos dias, nas noites que minguam, em época que sobra e me falta.  

 

É física a minha primavera. Visceral. Caminho de um sentido só de sentidos. Amena. Desentendidamente em guerra com as nuvens carregadas de isolamento. É a antítese metafórica das palavras que broto á terra, para colher nunca.

 

Autobiográfica? Impossível! Impossível autobiografar quando não sei qual delas sou. Se primavera, se as outras não primaveras … “

https://www.youtube.com/watch?v=-2eoCZxGjZE

Falta música conhecedora de música às palavras. Quando a tentativa vã de conceito, esgota salas sem música que seja de si mesmo feita, falta poesia, ouvido, menos social irreal e dinheiro obscenamente cobrado à entrada.

A musica nada tem a provar ao ouvido ruidoso e apedrejado de mente.

A insularidade promove a genialidade, quantos menos gente melhor, quanto mais salas bafientas e antigas de multidão diminuta, melhor igualmente.

O paraíso habita algumas das minha noites.

 

Abril antes de mim

O tempo ensina-me acerca da humanidade.

O desconhecimento faz o ridículo. Não posso, não devo julgar quem conheço, muito menos o devo fazer a quem não conheço, ou a quem o tempo não me deu a conhecer.

 

Desresponsabilizar-me, far-me-à sempre cair no erro da tentativa de encontrar em alguém ou algo, a minha própria responsabilização.

 

A sociedade vive para fora, para os outros, para a manipulação da auto-imagem.  

 

A individualidade vive para a sublimação.

 

O tempo ensina-me acerca da humanidade. O que gosto e o que não gosto. 

a metafisica do medo.

o medo,

a metafísica do medo, o deslumbre, a adivinhação,

o que antecipo em choro, em fuga, em defesa, em ataque,

o corpo sem corpo, nem tripas, nem coração,

nem prazer, nem tesão, nem mãos, nem dedos que apontem,

ou julguem quem em silencio se definha,

os portos atracados de mar, sem barcos ou sonhos,

a chuva que lê livros,

o sol que não lê livros,

a gente que não lê livros, nem as pessoas que os leem os veem,

a morte antes do medo,

o inverno, o al berto,

 

o medo,

a metafisica do medo.

Morphine

Quando o céu escurece a cidade e já só a vontade de sexo é a companhia da melodia de um saxofone, penso:

 

"que tamanha loucura em forma de normalidade, habita gente a quem nem o mar educa" e retorço-me com as palavras silenciosas como companhia.

 

Agora, este dedilhado ouve-me.

 

 

https://youtu.be/LAnaoTKbFkw

maldita desdita

“… As tuas mãos labirínticas. O bairro desfalecido. A Inês que deixou de ser mulher para ser o Ricardo. O pré-conceito dilacerante e obstinado. O mar entediado com a maledicência. O Ricardo frágil. A Inês quase forte. Gosto dos dois que um pénis não altera o meu gostar. A coragem vive mais do que a cobardia. Os drogados não se importam com a Inês, Os alcoólicos desimportam-se com o Ricardo e, se ele pagar um copo, podem até dizer: “ - eu não sou, mas tenho um amigo que é …”.  A Inês, tem uma amiga e um amigo que são. São os dois no mesmo corpo: - paixão, coragem, mãe, madrugada, esperança, mundo, solidão e magnificência – mas são do verbo ser, antes mesmo da maldita desdita …”

O medo e a culpa

O medo, não é somente medo que enclausura em si,

O medo é o mundo,

O medo é as escadas da semelhança,

O encadeamento ilógico dos dias,

O absurdo do amor,

O paradoxo da necessidade de atribuir culpa à culpa, nas mais variadas vertentes.

 

Culpa do medo,

O medo da culpa,

O medo pelo medo,

A culpa pela culpa.

 

Ensinam-nos isto antes de andar,

Antes sequer de sermos gerados,

Antes de tudo o medo,

Depois de tudo a culpa,

Depois de tudo o medo,

Antes de tudo a culpa.

 

O medo e a culpa,

A culpa e o medo,

A baia azul reflete o rochedo,

Onde um dia juro, me vou derrubar.

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