" ... penso diferente porque não transcrevo pensamentos. Elaboro o que sinto em palavras e embalo-as, assim ninguém poderá exprimir-se igual, mesmo que igualmente, haverá sempre desigualdade no sentir. Não transcrevo sub-elevadas teorias que não me pertençam, assim me mantenha, emocionalmente opinativo. Leio livros, apropriando-me deles sem desfazer as palavras dos pensamentos ..."
Lembro-me sempre da minha avó. A mãe de meu pai, que tal como mãe, não tive mãe de minha mãe.
Tenho alma de geração antiga, alma de quem resolve a vida com canções, de quem resolve a dor com mezinha e sabedoria trazida pela estações. Trazida pelo tempo somado de dias gastos e manhãs segredadas pelo horizonte.
Lembro-me sempre da minha avó sentada, já morta pela vida, adormecida à minha chegada. Lembro-me dos olhos que riam de azul. Dos lábios finos e esguios como o andar.
" ... adoro a sensação desta cidade não saber de mim, deste mar ser a janela onde me debruço, este cheiro o norte,
de neste imaculado anonimato poder despir-me e, neste caminho onde deambulo irreconhecível ser a proximidade que desejo.
adoro ver os homens que nunca vi, as mulheres que nunca me viram e esta virgindade que me dá esta cidade sem amigos, sem familia, com toda a solidão que preciso.
o bom dia com que saúdo a rapariga que não conheço no café da manhã, ajusta a cidade que me alberga estes dias