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Cardilium

Cardilium

Val de mar XIX

 "... Ela não me conhece. Nunca me viu. Mas eu bem a vejo.

Vejo-a tão bem que consigo entender aquele ar frágil, meio triste e sorridente de uma mulher feita de amor, não crente na possibilidade que a amem, mas não desistente na crença de que quem sabe um dia, não olhará o por do sol junto ao mar, com a felicidade de estar, de ser, e esperar pelas estrelas para dançar no embalo do peito onde esperará, o beijo e a madrugada.

Os olhos vivos que lhe saltam na cara, são a alma brilhante que a alimenta de vida. ..."

Escassez

". .É época de paz. De solidariedade. De compaixão. De fraternidade. De família. De nascimento e renascimento. 

 

Muito bem exclamei!

 

Não sabia que existia época para esses temas. Mas faz sentido. Nunca tinha associado a escassez do tema à época..."

Escuridão

É sempre maior a tristeza que lembro em cada  pedaço de inverno fragmentado de dias enfeitados de hipócrita alegria, luzes, família, caridade, solidariedade e boas festas às criancinhas. 

 

Raríssimas

 

É "raríssimo" sentir compaixão por alguém que se mexe, pensa, tem saúde e sorri. Mas começo a ser dono de uma certa simpatia pelo eng Sócrates, a ser solidário, disposto a ajudar nas suas necessidades, tal é, (começo a reconhecer) a manipulação informativa de nos fazer crer que é o maior bandido do país. Nao é nao senhor. E só mais um bandido, coitado, um bandido normal. Um homem com necessidades como os outros. 

 

Está muito na moda ser assim. Sai muito bem. Nao vem grande mal ao mundo. É banal e corriqueiro. Tem assim tanto mal ter um bom salário, as despesas pagas, bom carro, a familia empregada e sucessão assegurada?

 

Bem sei que é raríssimo ser amigo de ministros e secretários de estado que nos fazem de chapéu de chuva.  É raríssimo tamanho descaramento e presunção. É raríssima a prepotencia e a desumanidade de descapitalizar uma associação que cuida de crianças com doenças raras. É raríssimo ficar assim enraivecido como estou. 

 

Ha muitas coisas rarissimas. Uma delas a expressão da senhora Paula que  diz assim: "se calhar está na hora de fazer o luto pelo meu filho" se calhar está digo eu..

 

Mas é ao contrario. Primeiro o luto. Depois todo o respeito que devem os filhos do outros, cuidar deles como se fossem o teu. Assim, de uma forma simples, são os filhos da rarissima. 

Raríssima, tamanha estupidez, falta de ética e maldade.

 

Espero que a justiça seja a mesma que a do Sr eng. Até começo a simpatizar com ele. Parece o unico bandido do país. Mas não é, e não é rarissimo. Há mais.

tragédia do abraço

" ... Estamos encostados uns aos outros nos bares. Dançamos. O cheiro a humanidade fica ao rubro, no entanto, estamos desorganizadamente sós, sem saber os nomes das pessoas que nos tocam, que se cruzam nos mesmos bares, nas cidades, no mundo, na vida.

 

Está instituído uma espécie de código de desconfiança, onde o que não se diz é a verdade de alguém e, o que se induz, é a vida de outro alguém.

 

Temos medo de sorrir. Medo de olhar. Já não escondemos apenas o sorriso por troca com aquele ar frio e distante, escondemos igualmente o olhar, e, esconder o olhar, é escolher estar meio morto, mais do que meio vivo, o que faz que juntamente com o sorriso, ocultemos em disfarce mais de três quartos de vida.

 

A nossa tragédia é pensar que não temos nada a ver com esta solidão de companhia e, que adiamos mais uma vez, e uma outra vez o abraço, que não é mais e não quer ser mais - do que um abraço - "

Dezembro de 99

Sabe-me a boca a êxtase de outra década,

o peito a ansiedade e espera,

repetição que não se repete,

murmúrio cego,

ruído surdo sem o beijo que me fere .

 

resiliência infeliz que o tempo guarda e não devolve,

o que a paisagem escurece e queima,

madrugada apavorada,

olhar de fogo,

saudade de saudade amordaçada.

Uma flor mais

 

Uma flor a mais,

uma borboleta alvoraçada da cor do céu cinzento,

o rio verde a correr entre as mãos de uma floresta que se queda,

no suplicio de se manter feliz,

mesmo quando o mar revoltado se exprime nas dunas.

 

Uma flor a mais,

uma árvore a mais,

um beijo mais, 

um abraço mais.

 

tudo se põe com a tarde a norte,

fria,

sem saber se tenho companhia para o que resta do dia,

se tenho alegria para o que resta da vida.

 

qualquer coisa sempre a mais,

é mais qualquer coisa sempre de menos.

6 dez 2017

Nascido em plena guerra civil de um tempo de paz ao contrário. De poema em poema, de reconstruidos quereres, do sagrado ao profano, que aventura tão real esta chamada de vida, feita de víveres com abraços.

hábito (s)

“... é um hábito sabes.

 

- Como assim um hábito?

 

Sim um hábito. Eu tenho o hábito de me suportar sem que entenda que mais alguém o tenha que fazer por mim. Tu, tens o velho hábito de amar, e ao praticá-lo divides-te, já nem notas, é intrínseco a ti mesmo. Não tens noites que não tenham noite, nem dias que não tenham dia. É tudo a dividir, e ao fazê-lo, partilhas partes de ti que são mesmo feitas de ti.

 

Eu, não tenho isso por hábito. Nunca deixei que isso se tornasse num hábito. Decidi navegar, ir ao fundo e voltar, é uma habituação e não um hábito, entendes? …”

sem corpo presente

... eu estava sossegado e, de repente, as tuas mãos altas e esguias, tratadas e elegantes, sabedoras de mundo, empreendedoras e rubras de claridade, eras tu feita somente de mãos, sem corpo presente...

 

e foi assim com os teus lábios, os teus olhos, os teus pés, os teus ombros, a tua voz, o teu sorriso, as tuas costas, as tuas pernas ...

 

cada parte tua um mundo inteiro sem precisar de outro ...

 

eu estava sossegado e, de repente, as tuas mãos eram um mundo ...