Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cardilium

Cardilium

321

"... nem o corpo, nem a música, nem o desconhecido balanço que te embala, te trazem brilho ao olhar.

Penumbra, é como os teus olhos me dizem boa noite.

Frio, é o convite da tua boca triste e cabisbaixa, ao invés de vida e luz te enfeitarem o rosto ..."

A medicina não cura a solidão

O ciúme é o cancro da alma , o terramoto do amor.

 

Quando se procura que a solidão se trate com a medicina fica-se mais só, e nos jardins sao apreendidas as flores. 

 

Encontrei uma amiga só, nem as palavras se pronunciam desenvoltas da sua boca adormecida.

 

 

A medicina não cura a solidão.

nomes soltos e insensatez

Porque nao sai esta serenata da nota menor de ré, sem sustenido, sem bemol, sem mãos, sem lágrimas,

cantada pelas almas ?

 

Porque nao chega esta serenata de cristais até ti,

e a solidão se encha de tempo e jasmim ?

 

Porque nao enlouquece a minha voz de canto e madrugada,

de nomes soltos e insensatez ?

se tu não estás

não adianta velar este continente que trouxe para te guardar

                                                                        se tu não estás,

 

estás mais próximo, 

no entanto inacessível,

sem que o teu perfume possa embalar-se no vento,

ou a tua sombra se possa ver no dobrar da esquina,

sabendo que à noite não te acharei sorrindo,

ou logre contemplar a tua pele dourada pelo sol.

 

não adianta velar este continente que trouxe para te guardar,

                                                                         se tu não estás.

O bairro inteiro vive nas traseiras

Há dias verdadeiros em que me defendo de mim e sou.

 

Dias feitos de bairro onde estou só, onde estou eu, o jardim de trás, os cães, a relva por cortar, a água dentro das poças, a passarada, os antigos e sumidos desenhos na pintura gasta e velha do prédio, e os “amo-te”, redesenhados e avivados com a paixão, substituídos por nomes feitos de presente.

 

Já li: “amo-te claudia, patrícia, rosa, maria, susana, isabel, palmira, fernanda etc”  e tantos outros que afinal não são nomes desenhados na parede traseira do prédio, desavindo com a parede da frente. 

 

Há desenhos de sol, nuvens, paz, e poetas mortos. O bairro inteiro vive nas traseiras. É por lá que nada existe. 

O sol naquela terra é eternamente frio

“… nem as escadas a perder de vista transformam o sol em calor, está sempre frio aquele chão. As pedras colocadas em filas até à cidade, mantêm sempre o brilho gélido das manhãs mesmo açambarcadas pelo sol. O sol naquela terra é eternamente frio…”

Infantil coragem de te abraçar

Sentado entre o sono, a espertina, e meio metro inalcançável de corpo, com quem dancei a despedida quente e húmida a sul do sítio para onde este pássaro moderno me teima em levar, deixo cair pensamentos vagos, difusos, atrapalhados por um querer que não poderá nunca ser querer.

 

Espero nunca aterrar deste sonho que já se desfaz a cada minuto que o sonho. Sonho que este pássaro se transforme em pessoa, e nós nos transformemos em pássaros e voemos cada qual na sua direcção, em direcção a cada sonho que guardamos enquanto céu, livre e longínquo, irreal e desejado, que o sonho, é a infantil coragem, de te poder abraçar junto das estrelas uma última vez.  

 

Mil beijos mulher amiga de val de mar

Vi-te a trabalhar a vida inteira. Entender os sonhos e a madrugada.

 

O amor? Lei do retorno? Não entendo!

Vi-te a sobreviver num corpo de mulher, num olhar de menina que grita:

"... eu sou mais do que o corpo que vês passar. Eu sou mais do que o medo que me vês guardar.

Eu sou tanto e tão pouco mais do que amor, muito amor.

Amor de mãe que joga à bola como um pai.

Amor de um pai que teima em chegar e me fez aprender a dar "beijos à homem".

Sim dar beijos à pai.

Eu sou uma mãe que sabe dar "beijos à pai", e uma mãe que beija como uma mãe.

Que segura.

Que cuida.

Que trabalha.

Que gere.

Mulher que se esconde de ser mulher.

Que se esconde de deixar-se de ser mulher.

Inteira.

Vulnerável.

Carente.

Amorosa.

Companheira.

 

Mulher de corpo em tremura, desejada, beijada, amada e adormecida numa estória de ser feliz, como uma história inacabada.


Falta o abraço coerente com o sonho. O caminho faz-se caminhando.

Mil beijos mulher amiga de vai de mar 

Palavras silenciadas

Tenho ciúmes da tua boca.

Ciúmes do que cala, porque o que diz é o que fala e não são essas as palavras que me faltam, são, as que em silêncios se calam.

Sim, tenho ciúmes da tua boca.