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Cardilium

Cardilium

Deixem-me em paz com a merda do natal

Podem iluminar as ruas, perfuma-las, apelar à conformidade das boas acções, manipular as notícias, tentarem fazer-me de parvo, organizarem bons repastos, fingirem o altruísmo caduco dos dezembros, que eu vou continuar entristecido pela fantasia natalícia, deprimido, revoltado e choroso com homens escravos pelos homens que fazem o natal.

 

Não adianta deixem-me em paz com a merda do natal ....

Corrupta esta forma cega da fé dos homens.

Por vezes parece-me que a fé, os milagres, a crença, a proximidade a um ente superior é corrupta.

 

Parece que há mais concessões de milagres a uns do que outros. Não me parece que o fenómeno seja só e apenas em nome individual, aprecio-o em grupos também, mais a uns do que a outros. Há vezes até, em que me parece que são concedidas bênçãos a ateus convictos, hereges militantes.

 

Milagres, milagres, nunca assisti a nenhum, oiço por aí dizer que: “foi um autentico milagre” “que deus é grande e nunca me faltou” e “que nossa senhora de fátima me proteja”.

 

O que será necessário para ter uma bênção ou um milagre na minha sala de estar, no conforto dos quinze graus a mais que fazem de diferença para a avenida que cruza a minha casa?

 

Esta coisa de deus decidir por mim tem que acabar, não gosto nada de ditadores, gosto de decidir, escolher, ter livre arbítrio, pensar, errar, acertar, cair, levantar, e saber que se não for outro alguém, jamais poderá ser outro ninguém a salvar-me.

 

Corrupta, esta forma cega, da fé dos homens.

Naif e tonto

As nuvens estão sentadas na serra, as rochas ajeitam-se ao seu sentar. O sol esconde o frio que teima em desautorizar o sol. As árvores dançam e riem. Um pássaro grande é feliz no seu voo. Gosto deste naif sentir, feliz e tonto. 

 

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São as metades que desiludem o todo. 

Metades, mesmo mais do que uma, nunca é a esperança de um todo acontecer. 

Quanto mais são as metades, mais são a(s) (des) confirmações ...

Tristes memórias doces

Os olhos sempre cheios de outono,  o peito nascente de cascata, rebuliço de memórias doces que são hoje tristeza, nada pode ser novamente se já o foi.

 

Entre a neblina que pousa nas folhas caídas a nordeste, escolho um sorriso e visito um cliente, os dois, eu e ele, durante mais de sessenta minutos não sabemos quem o outro é, não sabemos sequer quem somos, esgrimamos interesses de desumanização, que a humanidade que se lixe.

 

Depois, cumprimentamo-nos, arrumo o sorriso escolhido, volto aos olhos de outono e às tristes memórias doces. 

horta do sr pimenta

Já não sou o menino de quem te escondeste entre as ruas e os carros, os prédios e a horta do sr pimenta, aquele bocado de mundo onde tudo havia, árvores, água, pássaros, outro bairro, erva, flores, terra, céu, estrelas, e o menino de quem te escondeste.

 

A horta do sr pimenta tinha tanto mundo, que eu não sabia que não havia horta do sr pimenta nos outros mundos. 

Nem sei o quê

São nas mãos envelhecidas que a recordo, mãe. Nas mãos que ordenaram que o céu me protegesse e o diabo se amarrasse. É na lembrança do que esqueceu, mãe, que retorno à nossa casa e me sento sob a esperança que o tempo devolva, nem sei o quê, talvez um pequeno  sorriso de paz fosse suficiente. 

Sobras

" ... Quando a realidade se mistura com a ficção, a mentira e a verdade padecem ambas da mesma miserabilidade.

 

Nenhuma é ela propria.

 

A mentira porque não acrescenta.

A verdade porque envergonha ..."

Sou dos que fazem e desfazem

“… Liberdade que me prende nas palavras amareladas que a gaveta guarda do tempo. Tempo cruel e sábio que desfaz o sentido, na passagem da vida pelo tempo. Já não há certezas que não sejam dúvidas, nem dúvidas que não sejam certezas. Já não há pessoas que não se achem sabedoras de tudo, ou que nunca se enganem na imagem de outro alguém.

 

O meu tempo está fechado com os papeis amarelados que a gaveta guarda, ensinam-me que não sou dos que sabem tudo e nunca se enganam.

 

Eu sou dos que se enganam. Dos que desamam. Dos que ressentem. Dos imperfeitos e incoerentes. Dos errantes navegantes. Dos que recomeçam e são donos de uma obra inacabada.

 

Sou dos que não se escondem. Dos que andam nas bocas dos outros sem se importar o que as bocas do mundo sopram, esperando sempre ser em desfavor, sem que isso seja importante ou referência acerca da humanidade.

 

Sou igualmente dos que constroem. Dos que fazem uma musica. Um poema. Um filho. Amor. Uma paisagem. Uma lágrima antes da seguinte. Um sorriso ao invés de uma gargalhada. Sou dos que leem. Dos que gostam, feito de um gostar guardado junto aos papeis amarelados pelo tempo.

 

Sou dos que amam com tempo avassalado. Não mudo de amigos há anos. Tenho poucos e são os mesmos. São velhos os meus amigos, como eu. Não tenho novos amigos. Novos conhecimentos.

 

Amores, são pérolas que se fazem e desfazem no frio congénito do meu sangue. 

Sou híbrido.  

Sou dos que fazem e desfazem …”

Parabéns filhota

Não há amor aos bocados, percentins de gostar, condições ou condicionamentos.

 

Amor é este sentir sobreposto ao sentir. É esta agonia e felicidade. Esta proximidade constante. Esta vigilante aventura de estar e ser. 

 

Faz hoje tempo que fui pai. Por inteiro, sem contrato, prazo ou negociação. 

 

Parabéns filhota. Amo-te.

 

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